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'Carminho é tão completa quanto Amália Rodrigues', reflete leitor
LEITOR LUIS GUSTAVO TEIXEIRA DA SILVA
DE PELOTAS (RS)
Desde sua primeira aparição para o grande público no documentário fado de Carlos Saura, Carminho [Maria do Carmo de Carvalho Rebelo de Andrade, 28] aos vinte três anos já demonstrava a grandeza, beleza e talento, que viemos conhecer anos mais tarde.
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Obra de Amália Rodrigues é destaque da coleção Folha
Carminho, estrela do fado de 28 anos, canta em São Paulo
Cantando ao lado de gênios consagrados do fado português como Vicente da Câmara, Maria da Nazaré e Ana Sofia Varela, a pequena cotovia de aparelhos nos dentes transformou-se em gigante cantando o fado das horas.
Há quem goste de comparar talentos recém-nascidos com os nomes consagrados no gênero, e com Carminho não seria diferente. A comparação com a musa Amália Rodrigues é inevitável, talvez seja devido a paixão e a riqueza interpretativa com que as duas adentrem na alma do fado, quizás pela beleza e simpatia peculiar a ambas, sinceramente não sei.
No entanto, Carminho é tão completa quanto Amália, é um daqueles casos típicos de artistas que conseguem revigorar gêneros outrora envelhecidos, dando uma nova roupagem a clássicos que de tão bem feitos conseguem transitar entre o popular regional à linguagem universal, agregando novos adeptos independentemente da localização geográfica, do idioma e de gostos.
Avener Prado/Folhapress | ||
A cantora portuguesa Carminho, 28, durante entrevista em São Paulo |
Este tipo é raro, mas eles surgem, assim como Soledad Pastorutti que ressuscitou la chacarera y el chamamé na Argentina, ou Francis Andreu com sua voz rouca de garganta com arena ou de tanguera del barrio arrabal, uma Malena, ou talvez o nosso Diogo Nogueira, que interpreta com muita destreza o velho samba dos fins de tarde dos bairros da Lapa no Rio de Janeiro, fazendo ecoar vozes como Agepê, Moreira da Silva e Benito de Paula.
Carminho nos apresenta uma versão remasterizada do velho fado português que há muito não cruzava o atlântico, dando vida aos sons deixados pelos turcos-otomanos que cruzaram Gibraltar e que deixaram como herança a pequena guitarra que mais parece o nosso cavaquinho a soar vibrações melancólicas, que aliada a voz de Carminho, se unem em um lamento capaz de explicar o porquê das lágrimas lusitanas terem criado o mar, como dizia Pessoa.
Certamente o motivo que explica tamanho talento, seja o seu sangue real português ou quem sabe a herança musical deixada por sua mãe, a fadista Teresa Siqueira, ou talvez sejam novos ventos a soprar no mediterrâneo a nos dizer que o fado não envelhece e que hoje parece mais novo ainda, iluminou-se.
Como diz a marcha da Alfama, reparem como está lindo, em becos, escadinhas, ruas estreitinhas, em cada esquina há um bailarico, trovas p'las vielas e em todas elas risos gargalhadas, fados desgarradas.
Em São Paulo, teremos um pedaço do velho bairro da Alfama e da Mouraria e que certamente nos despertará o desejo exprimido no fado tropical, o de nos tornarmos um imenso Portugal.
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