São Paulo, sábado, 29 de março de 2008

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Entrevista

A nostalgia do luxo

A jornalista americana Dana Thomas, autora do livro "Deluxe - Como o Luxo Perdeu o Brilho", fala sobre a revolução no consumo supérfluo

DÉBORA MISMETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Pelas fábricas no interior da China e por butiques sofisticadas de Xangai e Moscou passa o fim do luxo, ao menos daquele que floresceu nos séculos 19 e 20. O livro "Deluxe - Como o Luxo Perdeu o Brilho" (Editora Campus-Elsevier, 368 págs., R$ 69), da jornalista americana Dana Thomas, está sendo lançado nesta semana no Brasil, com tradução de Marco Sabino, e mostra o caminho das mais famosas grifes de luxo do mundo, como Louis Vuitton, Prada e Chanel. A ex-correspondente de moda da revista "Newsweek" em Paris mostra a substituição da qualidade pelo lucro, do design exclusivo pela ostentação de logos, dos clássicos por coleções ligeiras. Leia a entrevista que ela concedeu ao Vitrine por e-mail.

 

FOLHA - O crescimento das falsificações e o foco das marcas de luxo em bolsas e perfumes podem levar à desvalorização dessas grifes perante seus clientes antigos?
THOMAS -
Sim, com certeza. O consumidor de luxo tradicional não quer ser questionado por quem passa na rua se sua bolsa ou seus óculos são originais ou não, porque eles só comprariam itens originais. E eu acredito que eles ficam desapontados com o fato de que os acessórios lindos que eram feitos à mão com as melhores matérias-primas e em quantidades limitadas não só estão disponíveis em qualquer lugar, mas também são falsificados a um ponto em que é difícil saber se são verdadeiros ou não.

FOLHA - A "nova austeridade", tendência dos consumidores dos EUA e Europa a compras mais simples e menos ostensivas, vai abalar o futuro das marcas de luxo? Há uma chance de o luxo tradicional se tornar desejo de consumo somente em países emergentes, como China, Rússia e Brasil?
THOMAS -
Sim, essa possibilidade existe, não só por causa da "nova austeridade" de americanos e europeus. O foco dado pelo marketing das marcas de luxo em mercados emergentes, como a China, Rússia e Brasil, pode levá-las a perder o contato com seus consumidores globais e/ou tradicionais. Tanto que o diretor da Neiman Marcus, uma loja de departamentos de luxo nos EUA, avisou as marcas italianas desse problema recentemente. Ele recomendou que elas tivessem cuidado para não pensar, criar e atender somente os consumidores das nações em desenvolvimento porque poderiam perder os clientes americanos e europeus no meio do caminho.

FOLHA - O que é luxo hoje?
THOMAS -
Bem, para mim, não é algo que se possa comprar. É comer um tomate maduro no pé, morno de sol, ou tirar uma soneca com a minha filhinha no meio da tarde. No fim, no entanto, ainda é a mesma definição: algo singular, especial, algo que nos faz sentir bem.


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