São Paulo, sábado, 23 de agosto de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MARIA INÊS DOLCI [defesa do consumidor]

DÍVIDAS & INSÔNIA


Às vezes, como todos nós, Laura é uma criança grande, que não resiste a uma compra desnecessária

LAURA ESTAVA com insônia.
Não se tratava de doença, mas de um acúmulo de gastos sem lastro no banco. Laura deitava, rolava de um lado para o outro e nada de sonhar com dias melhores.
Apesar de todos os avisos que lhe dei, fiquei com pena dela. Às vezes, como todos nós, Laura é uma criança grande, que não resiste a um brinquedo, ou melhor, a uma compra desnecessária. Quem pode atirar a primeira pedra?
Se você tiver um problema parecido, talvez faça bom uso das dicas que fiz para Laura. Ou siga comprando e avolumando o que deve no crédito rotativo dos cartões. Não diga que não avisei.
Antes da dívida:
1. Peça para o banco reduzir o limite do seu cartão e não use o crédito rotativo.
2. Anote, em uma caderneta, os pagamentos mensais obrigatórios (tarifas públicas, aluguel, compras no supermercado, escola dos filhos, plano de saúde, condomínio). Desconte esses gastos de seu salário líquido. O que sobrar será o que você pode gastar sem se endividar.
3. Não tenha vários cartões de crédito, a não ser que sua renda permita.
4. Não gaste mais do que ganha, exceto em situações especiais.
5. Não assuma compromissos financeiros confiando em um futuro aumento de salário ou de renda.
Depois da dívida:
1. Antes de qualquer decisão, faça as contas com cuidado. Parece tolice, mas muitas pessoas nem sabem quanto devem de verdade, ou seja, com juros e correção;
2. Identifique o "ralo" pelo qual seu dinheiro está escoando: cartão de crédito, saldo negativo no banco, dívidas com amigos, agiotas ou parentes;
3. Tente substituir contas com juros absurdos, por exemplo, de uma financeira que não exige comprovante de renda, mas sangra seu bolso à base de 11% ou 12% ao mês, por um crédito direto ao consumidor da ordem de 3,5% ao mês.
4. Corte os gastos supérfluos, ainda que reduzam seu lazer, durante o período em que precise quitar dívidas elevadas. Quanto cortar? É simples: se você ganha R$ 5.000 e faltam R$ 500 mensais para honrar prestações, corte esse mesmo valor de seus gastos.
5. Vá às lojas e negocie os pagamentos atrasados. Há casos em que os estabelecimentos comerciais propõem um refinanciamento das dívidas com juros menores, ou ampliação do prazo para quitação do valor devido.
Como está Laura, hoje? Bem, ela seguiu algumas dessas dicas e reduziu suas dívidas. Já está conseguindo dormir porque enxerga um horizonte menos ameaçador. Às vezes, ela ainda acorda muito cedo, ou demora para repousar, porque não sobra nada no final do mês e ela sabe que é importante guardar algum dinheiro para eventuais dificuldades.
Por enquanto, mal consegue cumprir os acordos que fez para ajustar seus compromissos financeiros à sua renda. Às vezes, sonha que está comprando tudo o que tem vontade, mas isso não faz mal.
Dívidas nos sonhos não pesam no bolso.

http://mariainesdolci.folha.blog.uol.com.br

Texto Anterior: Liquidações
Próximo Texto: Batendo perna: Haja Catupiry!
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.