Nem supermercado escapa da moda da "loja-conceito": revisto e ampliado, Pão de Açúcar do shopping Iguatemi turbina carrinhos com tecnologia de ponta

TETÉ MARTINHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O slogan disfarça: "Básico. E nada básico". Mas não se iluda. O novo Pão de Açúcar do shopping Iguatemi é tão "básico" quanto a saia de radicchio que uma modelo veste na campanha publicitária. A loja testa uma oferta muito mais sofisticada do que a média da rede, layout estudado e aplicações tecnológicas futuristas. Embora nem tudo se justifique, basta entrar no supermercado para começar a ceder a tentações em série.
O que chama atenção na entrada, em especial das crianças, é o "carrinho inteligente". Por enquanto, é privilégio de quem adere a um programa ampliado de fidelidade. A loja tem leitor de código de barras, que registra as compras, e um GPS que localiza os produtos procurados. O leitor é bacana, se vier a substituir o caixa; já o GPS precisaria facilitar algo realmente difícil, como achar seu carro no estacionamento do shopping.
Mais simpáticos são os mostradores eletrônicos de preço, que põem fim a um desperdício crônico de papel; o terminal que acha e imprime receitas; e o programa que pesquisa os vinhos por preço, região, prato etc. No último domingo, a tela "touch screen" já estava estressada: sem esperar pela pergunta, oferecia um rosê português em resposta.
Se as tecnologias ainda são mais espalhafatosas que úteis, a loja dá show em setores, digamos, mais básicos: mix de produtos e divisão do espaço. Gôndolas baixas, dispostas em diagonal, criam visibilidade e facilitam a circulação dos levíssimos carrinhos de plástico; a reposição ágil permite manter o máximo de itens (e o mínimo de cada um) expostos, criando sensação de diversidade, mas não overdose.
Das tortas de marzipã às terrines de presunto cru, dos chocolates belgas aos avocados, da figada do sul de Minas ao "sorbet" francês de pêra, a oferta é tão glamourosa quanto os standards do jazz americanos que tocam na loja e as gôndolas de chás, cafés e temperos, casos à parte.
Naturalmente, tudo tem um preço. No Pão de Açúcar do Iguatemi, duas rosas colombianas custam R$ 39,90. Mas são as coisas que você não encontraria no supermercado perto de casa, como o vidrão de flor de sal e a babaganoush do Arábia, que acabam fazendo com que o conteúdo de quatro sacolinhas mirradas custe R$ 173. Se você estiver faminto, duro ou carente, melhor nem passar na porta.