|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Estudo mostra que semelhanças geram mais atração sexual
Quanto mais a pessoa se parece com você ou com seus
pais, mais atraente será aos seus olhos, conclui pesquisa
Resultado põe em
discussão as razões
biológicas pelas quais o
incesto seria evitado,
dizem pesquisadores
RICARDO BONALUME NETO
DE SÃO PAULO
O velho clichê de que os
opostos se atraem pode estar
com os dias contados. Experimentos feitos por dois psicólogos nos EUA revelaram
que as pessoas são atraídas
por quem se parece com elas
e, algo um tanto perturbador,
pelos próprios pais.
Para chegar à conclusão,
os pesquisadores fizeram
grupos de estudantes de psicologia avaliarem o grau de
atração de vários rostos apresentados no computador.
O resultado mostra que é
cedo para dar por encerrado
o debate sobre os mecanismos biológicos que evitam o
incesto, afirmam Robert
Chris Fraley, da Universidade de Illinois, e Michael J.
Marks, da Universidade Estadual do Novo México.
BARBA NO PHOTOSHOP
Mas será que os resultados
não seriam explicáveis pelo
fato de os alunos estarem obviamente mais familiarizados com seus próprios rostos, ou dos seus pais e mães?
"Improvável. Não há motivo para achar que as pessoas
no grupo-controle seriam
menos familiarizadas com
seus rostos do que pessoas
na condição experimental",
disse Fraley à Folha.
Nem todos estão contentes
com o rosto que têm, e isso
pode ter influenciado. Há
também quem se acha espetacularmente belo. "Seria interessante determinar, em
uma pesquisa futura, se sentimentos de autoamor e auto-ódio moderam os efeitos que
relatamos", admite Fraley.
Segundo ele, o grupo de
estudantes era típico. "Não
eram mais ou menos atraentes do que outros americanos
da mesma faixa etária", diz.
A maioria era branca, mas
não haveria problema em
combinar rostos de raças diferentes para esse experimento. "Nosso maior desafio, por pouco interessante
que possa parecer, foi lidar
com pelos faciais, que a gente tirava das imagens com o
photoshop", diz Fraley.
ÉDIPO
Os resultados dão novo
alento ao clássico conceito
do complexo de Édipo da psicologia freudiana, segundo o
qual o filho teria atração pela
mãe e aversão pelo pai.
A aversão que pai e filha,
mãe e filho teriam em fazer
sexo entre si resultaria de
mecanismos inconscientes
que avaliaram grau de parentesco, como resultado da
evolução biológica, segundo
as teorias mais aceitas.
Fraley e Marks argumentam agora com uma perspectiva alternativa: a de que evitar o incesto surge de tabus
reconhecidos e que, se a percepção do parentesco é posta
de lado, as pessoas acham
mais atraentes pessoas que
lembram seus pais.
O primeiro experimento
incluiu a apresentação subliminar de uma foto do pai, para as moças, e da mãe, no caso dos rapazes. O segundo foi
feito com imagens modificadas que incluíam partes do
próprio rosto do estudante.
O debate científico sobre
incesto tem mais de um século, desde que em 1891 o sociólogo finlandês Edward
Westermarck publicou seu livro sobre o casamento. Para
ele, o tabu existe porque filhos de uma ligação incestuosa têm maior mortalidade, o que teria feito a seleção
natural darwiniana favorecer mecanismos psicológicos
que fariam as pessoas terem
aversão sexual a parentes.
O austríaco Sigmund
Freud, em 1913, afirmou que
as pessoas evitam o incesto
não por conta desses supostos mecanismos inconscientes, mas porque as sociedades criam proibições.
"Mais provocativamente,
Freud argumentou que não
haveria necessidade de tabus contra incesto a não ser
que existissem desejos incestuosos a serem reprimidos",
escreveram Fraley e Marks,
na revista "Personality and
Social Psychology Bulletin".
SEMELHANÇA FAMILIAR
Em um dos três experimentos, a semelhança familiar nas faces exibidas era
constante, mas os participantes eram informados, falsamente, que seu próprio
rosto estava incluído ali. Já
um grupo-controle não era
informado sobre isso.
"Esse procedimento nos
permitiu variar a ativação
dos tabus culturais que podem regular o desejo sexual", afirmam os autores.
De acordo com a perspectiva de Westermarck e seus seguidores modernos, os dois
grupos deveriam ter resultados semelhantes, já que o
mecanismo de evitar incesto
seria inconsciente.
Já para os autores, o conhecimento consciente de
que os rostos estão geneticamente aparentados deveria
despertar aversão sexual,
mesmo que isso seja falso.
Os estudantes achavam
menos atraente o rosto se
suspeitavam de parentesco,
mesmo quando não havia.
Texto Anterior: FOLHA.com Próximo Texto: Força na peruca Índice
|