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Maternidades de SP oferecem leite artificial a recém-nascidos
Prática é corriqueira, mas contraria orientações da Sociedade Brasileira de Pediatria e da OMS
Hospitais dizem que só dão suplemento em alguns casos; médicos defendem aleitamento exclusivo até 6º mês
Caio Guatelli/Folhapress
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A assistente de importação Carla Pestana, com as filhas Tarsila e Manuela; as meninas tomaram leite artificial no hospital onde nasceram, em Santos
RACHEL BOTELHO
GABRIELA CUPANI
DE SÃO PAULO
Maternidades andam oferecendo complemento alimentar a recém-nascidos, o
que prejudica o aleitamento
e contraria regras da Sociedade Brasileira de Pediatria.
Breno, 11 meses, nasceu
na Beneficência Portuguesa,
em São Paulo. Até ter alta, recebeu leite artificial. Justificativa: a mãe precisava descansar do parto. "Eu e ele estávamos bem, não tinha razão para isso", diz a mãe, a
professora Lívia Ledier, 29.
Na época, a mãe de Breno
não questionou o hospital.
"Estava muito emocionada."
Em meio ao turbilhão do pós-parto, a falta de informação
dos pais sobre a importância
da amamentação exclusiva
abre uma brecha para essa
conduta nas maternidades.
"Infelizmente, isso é comum", diz Keiko Miyasaki
Teruya, da Sociedade Brasileira de Pediatria, entidade
que prega amamentação exclusiva até os seis meses.
GÊMEOS
A assistente de importação
Carla Pestana deu à luz duas
meninas na Casa de Saúde
Santos. "Eu estava ótima",
diz. Mas deram complemento para Manuela e Tarsila.
O leite não descera no segundo dia e, conforme a enfermeira, as gêmeas não podiam esperar mais.
"A pediatra me convenceu
de que eu não teria leite para
as duas e que entraria no leite
artificial mesmo", diz Carla.
Segundo Teruya, o bebê
pode ficar até cinco dias sem
comer, e a mãe pode muito
bem amamentar dois bebês.
É o que diz a pediatra Elsa
Giugliani, do Ministério da
Saúde. "A produção de leite
só depende do estímulo."
A OMS tem uma lista de razões aceitáveis para o uso do
leite artificial. Mas há situações não listadas em que a
complementação se justifica,
como quando o bebê ou a
mãe tem algum problema.
Laís nasceu em abril, na
maternidade São Luiz. Com
hipotonia (problema que dificulta a sucção), tomou suplemento por sonda, na UTI.
O médico disse que a mãe deveria esperar para dar o seio.
"Dois dias após nascer, ela
já ficava no meu peito e tomava complemento na mamadeira depois", diz a pedagoga Cristiana Odakara, 32.
Para Teruya, está errado.
"Se o bebê não tem sucção, o
certo é dar leite materno por
sonda, depois por copinho e
depois estimular a sugar."
Para a mãe, a mamadeira
acostumou Laís a esse tipo de
bico, acelerando o desmame.
A arquiteta Fernanda Eiras
teve prematuras na Pró-Matre. Custou a se recuperar,
não amamentou-as logo. As
crianças foram consideradas
de baixo peso. A complementação foi recomendada.
"O ideal é leite da mãe ou
do banco. Artificial, só em último caso", diz Giugliani.
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