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Brasil terá duas bulas até o final do ano
Uma terá linguagem técnica e será dirigida a médicos, e a outra trará aos pacientes as informações de maneira didática
Propostas de mudança constam de consulta pública da Anvisa que termina no dia 24; letras e espaços entre parágrafos deverão crescer
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Até o final do ano, o Brasil terá duas bulas de medicamentos: uma com linguagem técnica, destinada a médicos, e outra
voltada ao paciente, com informações mais didáticas.
A bula do paciente continuará dentro da caixa do remédio,
enquanto a outra será eletrônica, disponível no site de Anvisa
(Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Os pacientes
também poderão acessá-la.
As letras e os espaçamentos
entre os parágrafos no texto da
bula devem ficar maiores, para
facilitar a leitura dos textos. Essas e outras propostas constam
de uma consulta pública da Anvisa que termina no dia 24.
Alguns estudos apontam que
as bulas dos remédios vendidos
no país são incompletas, excessivamente técnicas para o público leigo e superficiais e desatualizadas para os médicos.
Em 2008, o Idec (Instituto
Brasileiro de Defesa do Consumidor) avaliou bulas de 19 remédios (antidepressivos, calmantes, anti-inflamatórios, vasodilatadores, antirreumáticos
e drogas contra pressão alta e
para baixar o colesterol) e constatou vários problemas.
Entre eles, encontrou diferenças significativas entre as
informações dos medicamentos de referência e seus genéricos ou similares -embora o
efeito devesse ser o mesmo.
O instituto também comparou as bulas nacionais com as
americanas. Nos EUA, os anti-inflamatórios destacavam o risco de morte por problemas cardiovasculares. No Brasil, dois
anti-inflamatórios (Voltaren e
o genérico Diclofenaco Sódico)
não traziam esse alerta.
Segundo a gerente-geral de
medicamentos da Anvisa, Nur
Shuqair, com as novas bulas,
esses problemas serão sanados.
"Todos terão a mesma informação técnica, o mesmo modelo de bula. Isso vai ajudar tanto
a fiscalização como os profissionais que prescrevem e dispensam medicamentos, que
podem se confundir com as diferenças", afirma Shuqair.
Outra queixa de entidades de
defesa do consumidor e vigilância em medicamentos é a falta
de atualização periódica das
bulas. Segundo o médico sanitarista José Ruben de Alcântara Bonfim, coordenador da Sobravime (Sociedade Brasileira
de Vigilância de Medicamentos), com o atual formato da bula, nem médicos nem pacientes
conseguem ter uma informação completa e atualizada.
"Lá fora há muito mais agilidade em publicar, por exemplo,
novos efeitos adversos que não
haviam sido previstos", diz
Bonfim. Shuqair, da Anvisa, informa que, com o bulário eletrônico, a atualização das informações ganhará agilidade.
Bonfim também defende
uma ampla revisão dos termos
técnicos da bula, que, na sua
avaliação, só dificultam a compreensão. "Quem sabe o que é
xerodermia? Não é mais fácil
escrever pele seca?", questiona.
Automedicação
Para o Idec, que prepara uma
série de sugestões para enviar à
consulta pública, os termos técnicos e a falta de informação
violam o direito do consumidor
a uma informação correta e
completa, além de representar
um risco à saúde. "A bula é um
documento importante. Hoje,
com essa total desregulamentação, ela induz o consumidor a
erros", diz a advogada Karina
Grou, gerente jurídica do Idec.
Segundo ela, é preciso corrigir o descompasso entre as bulas de genéricos e de drogas de
marca. "Não há razão para a bula do genérico ter menos informação do que a do medicamento de referência", avalia.
Outro problema diz respeito
aos efeitos colaterais. A atual
legislação permite que as empresas só informem na bula as
reações adversas mais graves.
"A proposta é que as reações
mais simples constem da bula."
Na avaliação do Idec, há casos ainda em que as bulas incentivam que os pacientes façam uso de remédios sem acompanhamento médico.
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