São Paulo, quinta-feira, 29 de julho de 2010

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ANÁLISE

Dos "sonhos delirantes" ao crivo de Marina, partido pode perder essência

VERA MAGALHÃES
EDITORA DE PODER

A guinada "careta" do PV, dos ideais libertários da geração de Gabeira e Sirkis à influência das crenças religiosas de Marina Silva sobre o programa partidário, mostra um pragmatismo que destoa um pouco da utopia que a campanha presidencial da senadora tenta difundir.
Já haviam sumido do estatuto do partido temas polêmicos como a defesa do aborto e da discriminalização das drogas. Agora, até uma "boutade", como a bandeira do fim do serviço militar obrigatório, está sujeita ao revisionismo da era pós-Marina.
Tanto Sirkis quanto outros dirigentes do partido -como o candidato ao governo de São Paulo, Fábio Feldmann- já admitiram que, na fase pré-Marina, o PV era um partido sem cara, aliado a governos de vários matizes ideológicos e sem critérios claros para aceitar filiados.
A filiação da senadora teve como condição liberdade para opinar sobre o programa partidário e poder de participar da peneira para filtrar a entrada de filiados "ficha-suja" ou com biografia incompatível com a causa verde.
Ao ceder sem discussão às novas diretrizes ditadas pelo ingresso da candidata, o PV parece fazer uma confissão pública de que, antes, era um partido "café com leite".
É o próprio Sirkis que afirma que nem nos sonhos "mais delirantes" os verdes históricos podiam acreditar na viabilidade dessas ideias.
A renúncia a propostas mais liberais, principalmente nas questões de comportamento, leva a sigla para mais perto dos partidos tradicionais, alvos de recorrentes críticas das candidatas.
Marina tem se apresentado como a candidata de uma certa utopia possível, que remete ao discurso do "Yes, we can" de Barack Obama. É com essa estratégia que ela espera, como tem repetido, quebrar a polarização entre José Serra e Dilma Rousseff.
Deixar para trás bandeiras caras a um certo público simpático ao PV -que a própria campanha já localizou na intelectualidade urbana- pode levar a candidata a perder um de seus principais apelos.


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