|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Historiador rejeita tese de conspiração contra João Goulart
Luiz Alberto Moniz Bandeira diz que família de Jango endossou suspeita para tentar indenização dos EUA
Para Moniz Bandeira, não há dúvida de que a morte foi por infarto; procurados, familiares não ligaram de volta
BERNARDO MELLO FRANCO
DE SÃO PAULO
Após investigar por dois
anos a morte do ex-presidente João Goulart (1918-1976), o
historiador Luiz Alberto Moniz Bandeira afirma ser
"charlatanice" a tese de que
ele teria sido assassinado por
agentes uruguaios a mando
da ditadura brasileira.
Ele acusa a família de Jango de endossar a suspeita na
tentativa de obter indenização dos Estados Unidos pelo
apoio ao golpe de 1964.
"Isso só interessa à família, por motivos financeiros,
e a alguns segmentos que
pretendem fazer exploração
política do caso", afirma.
A tese sobre o suposto assassinato de Jango é analisada num apêndice inédito ao
livro "O Governo João Goulart", de Moniz Bandeira. A
Folha teve acesso à obra,
que volta às livrarias em junho pela editora Unesp.
Companheiro do ex-presidente no exílio, o professor
aposentado da UnB contesta
o relato do uruguaio Mario
Neira Barreiro, que diz ter
participado de uma operação para envenenar o ex-presidente no hotel em que ele
vivia, em Buenos Aires.
O historiador afirma não
ter dúvidas de que Jango
morreu de infarto, devido a
seu histórico de doenças cardíacas e à falta de cuidado
com a saúde.
"Somente quem não raciocina e carece de um mínimo
de conhecimento pode considerar seriamente a história
de conspiração contada pelo
delinquente Neira Barreiro",
afirma ele no livro.
"FARSA"
Preso no Rio Grande do Sul
por crimes comuns (tráfico
de armas, roubo de carro-forte e falsidade ideológica), o
uruguaio sustenta a versão
de que o serviço secreto de
seu país adulterou remédios
para matar Jango e evitar sua
volta ao Brasil.
Ele fez o relato à Folha, em
janeiro de 2008, e à Polícia
Federal, em depoimento tomado por ordem do ex-ministro Tarso Genro (Justiça).
Segundo Moniz Bandeira,
a tese da troca de remédios é
uma "farsa" e carece de provas. Ele afirma que o corpo
não foi submetido a autópsia
por decisão da família, e não
por veto da ditadura.
Pesquisando os arquivos
do caso, o historiador recuperou entrevista em que a
viúva do ex-presidente, Maria Thereza Goulart, afirmou
não ter dúvidas sobre a causa
da morte do marido.
A declaração foi dada em
1982, quando o ex-governador Leonel Brizola defendeu
a exumação do corpo de Jango após a divulgação de outra suspeita de assassinato.
Apesar de contestar a tese
de homicídio, Moniz Bandeira faz uma defesa enfática de
seu governo e da decisão de
não resistir ao golpe de 1964:
"Ele não resistiu porque não
havia condições de vencer".
A Folha procurou a família de Jango por meio do Instituto João Goulart, presidido
por seu filho João Vicente,
mas não obteve resposta.
Texto Anterior: Outro lado: Costa nega saber de acordo feito pela Embratel Próximo Texto: Frase Índice
|