São Paulo, segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Próximo Texto | Índice

Riscos emergentes


Crise de confiança, contração do crédito e queda nas exportações ameaçam países em desenvolvimento

DEPOIS DE atingir os países ricos, a crise está mostrando sua face nos países emergentes. Os mercados de ações, de imóveis e das moedas sofrem acentuada desvalorização. A contração do crédito global também ameaça o financiamento das contas externas de algumas economias em desenvolvimento.
O Leste Europeu pode ser particularmente afetado. O Fundo Monetário Internacional (FMI) estima o déficit em conta corrente (todos os bens e serviços transacionados com o exterior) dos países da região em US$ 164,4 bilhões neste ano. É um enorme desequilíbrio. Algumas nações registram déficits externos de dois dígitos em relação ao PIB.
As operações em moeda estrangeira representam quase a metade dos empréstimos pessoais e corporativos na região, o que teve grande impacto com a valorização do dólar. O custo desta opção foi alto. A Hungria já solicitou um empréstimo de 5 bilhões ao Banco Central Europeu, primeira operação para uma nação fora da área da moeda única. A Ucrânia negocia um resgate de emergência de US$ 15 bilhões com o FMI.
O Sudeste Asiático também não saiu ileso. A forte desvalorização da moeda coreana gerou suspeitas de que o país pode ser a primeira vítima da crise na região. Seus bancos enfrentam dificuldades para obter recursos em moeda estrangeira e o governo já injetou cerca de US$ 15 bilhões em bancos e empresas locais desde o fim de setembro.
No continente americano, as economias mais vulneráveis são os pequenos países do Caribe, com déficit externo de 15,7% do PIB e dívida externa elevada.
A América Latina também será afetada. O conjunto dos países da região vai apresentar déficits externos de US$ 37,3 bilhões, estima o FMI. O financiamento desse resultado deverá ficar mais difícil, sobretudo com a reversão dos preços dos produtos agrícolas, minerais e do petróleo que essas nações exportam.
Excluindo o México (que exporta produtos industrializados para os EUA), as commodities respondem por 74% das exportações dos 18 países latino-americanos. O barril do petróleo caiu de US$ 145, em julho, para a faixa de US$ 70. Outras commodities metálicas e agrícolas também registraram queda de mais de 50% em suas cotações. Esses números são um bom indicativo do impacto que nações como Venezuela, Equador, Bolívia e Chile devem experimentar.
As economias com elevada dependência de financiamento externo -como os países do Leste Europeu e do Caribe- parecem caminhar para um pouso forçado. Suas taxas de crescimento tendem a diminuir abruptamente, sobretudo se o arrocho do crédito persistir. Algumas com déficits fiscais elevados podem enfrentar restrições para expandir o gasto público e suavizar os impactos recessivos na atividade produtiva e no emprego.
O FMI deve permanecer alerta e disponibilizar suas linhas de crédito emergenciais com rapidez a fim de conter o espraiamento da crise para as economias emergentes.


Próximo Texto: Editoriais: Manifestação responsável
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.