São Paulo, quarta-feira, 19 de maio de 2010

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ANTONIO DELFIM NETTO

Da autonomia do BC

TEMOS SEMPRE procurado chamar a atenção para as vantagens sociais e econômicas de uma política monetária executada por um Banco Central operacionalmente autônomo.
Uma instituição que construiu sua "credibilidade" (como é o caso brasileiro) pela verificação, ao longo de alguns anos, de uma taxa média de inflação com pouca variabilidade e próxima à "meta" fixada pelo poder incumbente. Seu efeito positivo sobre o equilíbrio social é sempre esquecido.
Na nossa opinião, entretanto, é um dos fatores mais importantes para "explicar" a ausência de greves selvagens no estabelecimento da distribuição do "excedente" entre o capital e o trabalho, que é um problema essencialmente político.
Seu efeito sobre a eficiência produtiva é, também, inegável: reduz os ruídos dos preços relativos e, portanto, melhora a qualidade da alocação dos fatores de produção para atender à demanda de bens e serviços.
Quanto ao nível "ótimo" da meta de inflação, há muitas dúvidas. É claro que quanto menor melhor.
Deve, porém, ser adequada para acomodar as manobras da política monetária e as necessárias flutuações do salário real. Dito isso, não deveria haver nenhuma surpresa na verificação "empírica" de que, quando funciona (meta de inflação com pequena variabilidade cumprida), ela é um estimulante mecanismo para o desenvolvimento.
É difícil, entretanto, acreditar que seja apenas o sistema de "metas de inflação" executado por um Banco Central autônomo que produz a estabilidade da "expectativa inflacionária", fundamental para a realização da taxa de inflação em torno da meta. Sem um forte apoio da política fiscal e sem a existência de um "ambiente" favorável ao crescimento, o custo daquele sistema em termos de exacerbação das tensões internas pode ser imenso.
O que se deve discutir é a qualidade da "ciência" monetária que é ainda incipiente. O seu modelo exige certeza sobre um oximoro, dois parâmetros variáveis, e ultrafugidios: a "taxa de juros real de equilíbrio" e o "produto potencial". Todos os Bancos Centrais fazem "hedge" para sua "credibilidade" superestimando a primeira e subestimando o segundo.
Em poucas palavras, o sistema tem, sim, um custo social, o que também não é novidade, porque não existe "almoço grátis". É evidente que esse custo é tanto maior quanto mais conservador for o comportamento do Banco Central.
Logo, não é pecado discutir o seu comportamento!

contatodelfimnetto@uol.com.br


ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras nesta coluna.


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