|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANTONIO DELFIM NETTO
Da autonomia do BC
TEMOS SEMPRE procurado
chamar a atenção para as vantagens sociais e econômicas
de uma política monetária executada por um Banco Central operacionalmente autônomo.
Uma instituição que construiu
sua "credibilidade" (como é o caso
brasileiro) pela verificação, ao longo de alguns anos, de uma taxa média de inflação com pouca variabilidade e próxima à "meta" fixada pelo poder incumbente. Seu efeito
positivo sobre o equilíbrio social é
sempre esquecido.
Na nossa opinião, entretanto, é
um dos fatores mais importantes
para "explicar" a ausência de greves selvagens no estabelecimento
da distribuição do "excedente" entre o capital e o trabalho, que é um
problema essencialmente político.
Seu efeito sobre a eficiência produtiva é, também, inegável: reduz os
ruídos dos preços relativos e,
portanto, melhora a qualidade da
alocação dos fatores de produção
para atender à demanda de bens e
serviços.
Quanto ao nível "ótimo" da meta
de inflação, há muitas dúvidas. É
claro que quanto menor melhor.
Deve, porém, ser adequada para
acomodar as manobras da política
monetária e as necessárias flutuações do salário real. Dito isso, não
deveria haver nenhuma surpresa
na verificação "empírica" de que,
quando funciona (meta de inflação
com pequena variabilidade cumprida), ela é um estimulante mecanismo para o desenvolvimento.
É difícil, entretanto, acreditar
que seja apenas o sistema de "metas de inflação" executado por um
Banco Central autônomo que produz a estabilidade da "expectativa
inflacionária", fundamental para a
realização da taxa de inflação em
torno da meta. Sem um forte apoio
da política fiscal e sem a existência
de um "ambiente" favorável ao
crescimento, o custo daquele sistema em termos de exacerbação das
tensões internas pode ser imenso.
O que se deve discutir é a qualidade da "ciência" monetária que é
ainda incipiente. O seu modelo exige certeza sobre um oximoro, dois
parâmetros variáveis, e ultrafugidios: a "taxa de juros real de equilíbrio" e o "produto potencial".
Todos os Bancos Centrais fazem
"hedge" para sua "credibilidade"
superestimando a primeira e subestimando o segundo.
Em poucas palavras, o sistema
tem, sim, um custo social, o que
também não é novidade, porque
não existe "almoço grátis". É evidente que esse custo é tanto maior
quanto mais conservador for o
comportamento do Banco Central.
Logo, não é pecado discutir o seu
comportamento!
contatodelfimnetto@uol.com.br
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Ruy Castro: Peripécias da pílula Próximo Texto: Frases
Índice
|