|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANTONIO DELFIM NETTO
Capitalismo
+ urna
FREQUENTEMENTE as pessoas tendem a juntar um ideal
utópico generoso à ingenuidade de que poderiam facilmente
realizá-lo, desde que houvesse
"vontade política".
Não é raro se atribuir ao que confusamente se chama de "capitalismo" a essência dos males sociais e a
corrupção do homem. Em lugar da
competição desenfreada e do
egoísmo exacerbado produzido pela forma de organização social que
se chama de capitalismo, poderíamos apenas, com uma adequada,
poderosa, inteligente e misteriosa
"vontade política", substituí-la.
Nesta, a convivência entre os homens seria harmônica e cada um
poderia realizar livremente suas
potencialidades. Na falta de um nome melhor e também confusamente, ela é chamada de "socialismo".
Constroem-se, assim, dois conceitos platônicos opostos, igualmente
confusos: "capitalismo" e "socialismo". Por construção, o primeiro é a
essência do mal, e o segundo, a essência do bem...
O fundamento dessa crença é um
axioma duvidoso: a cooperação e o
altruísmo são as tendências naturais do homem quando não corrompido pelo capitalismo. O problema é que este não é uma coisa,
mas um processo. É uma organização flexível (sempre provisória
porque evolui), a que o homem
chegou por uma seleção histórica
"quase" natural para atender à sua
eterna busca de uma forma de convivência compatível com a liberdade individual, mas que, ao mesmo
tempo, tenha eficácia produtiva capaz de libertá-lo para gozá-la.
A história mostra que, cada vez
que um fino cérebro peregrino
"inventou" uma fórmula para
apressar o processo, algum brutamontes empolgando a tal "vontade
política" tentou implementá-la.
As aventuras sempre terminaram
na ineficácia produtiva e na subtração da liberdade, ou seja, no retrocesso histórico.
O capitalismo, isto é, a forma de
organização evolutiva do sistema
produtivo vigente, só pode existir
com um Estado constitucionalmente forte, que garanta a propriedade privada, a apropriação dos benefícios da atividade individual, o
cumprimento dos contratos e o
funcionamento dos mercados.
Quando ele é combinado com
um regime político competitivo,
que garante (realmente) a livre manifestação da vontade dos indivíduos com o sufrágio universal periódico, acelera-se a sua evolução
na direção correta.
O "capitalismo" e a "urna" são os
polos de uma dialética que parece
ser capaz de construir uma organização social que acompanhe, assintóticamente, as aspirações sempre
crescentes do homem.
contatodelfimnetto@uol.com.br
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Ruy Castro: Calvário nas manchetes Próximo Texto: Frases
Índice
|