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ELIANE CANTANHÊDE
"La computadora"
BOGOTÁ - Por que Hugo Chávez,
que chamava Bush de "el diablo" e
falava cobras e lagartos do presidente da Colômbia, Álvaro Uribe,
passou de leão que ruge a gato que
mia? Ele já acenou com a bandeira
branca para Washington e na próxima sexta recebe Uribe na Venezuela cheio de amor para dar.
Ontem, conversei com um assessor e ideólogo de Uribe, José Obdulio Gaviria, na sede do governo, a
"Casa de Nariño", e ele deixou claríssimo que os dois países e seus governos estão refazendo a relação:
"A luta contra o terrorismo nos fez
perder muito tempo (...) e estamos
retomando com todo o entusiasmo
a agenda bilateral".
Soa assim: o que passou, passou,
estamos partindo para outra. Do lado colombiano faz todo o sentido,
porque, afinal, 17% das exportações
vão para a Venezuela e não é nada
pragmático sair aos tapas com um
parceiro tão importante. Do lado de
Chávez, o que aconteceu?
As duas principais especulações:
1) Depois de perder o referendo para se eternizar no poder, Chávez teve de amenizar o tom. 2) A tal "computadora" (em espanhol, a palavra é
feminina) do líder das Farc Raúl
Reyes, morto em março, contém
coisas do arco-da-velha, que poderiam deixar Chávez muito mal.
Ou seja, estaria havendo uma espécie de chantagem, diga-se, negociação: a Colômbia esconde o que
havia de mais comprometedor contra Chávez, e ele adota um curso de
boas maneiras, modera o linguajar
e toca a vida.
O fato é que, aqui na Colômbia,
sob o calor do resgate espetacular
de Ingrid Betancourt, fica a sensação de que, se Chávez foi o fenômeno todos estes anos, quem chegou a
mais de 80% de aprovação, dando
de ombros para gregos, troianos e
sul-americanos, foi Uribe.
Ou seja, tanto se fala na "esquerdização" da América do Sul, mas
quem está bombando é Uribe, à direita, numa aliança carnal com os
EUA. Resta saber a que custo, a médio e a longo prazo.
elianec@uol.com.br
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