São Paulo, terça-feira, 05 de abril de 2011

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Editoriais

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O conflito marfinense

A Costa do Marfim nunca esteve tão próxima, nos últimos oito anos, de um retorno à guerra civil de 2002-03. Forças do presidente Laurent Gbagbo enfrentam-se com partidários de Alassane Ouattara, vencedor das eleições de novembro, nas ruas de Abidjã, a antiga capital onde vivem 3 milhões dos cerca de 20 milhões de habitantes da ex-colônia francesa.
Gbagbo está no poder desde 2000 e aferra-se a ele mesmo com reconhecimento internacional, tanto de potências ocidentais quanto de países africanos, de que foi derrotado na eleição do ano passado. Ouattara, primeiro-ministro no início dos anos 90, busca agora tomar à força o que as urnas lhe deram, a Presidência, mas seu adversário recusa-se a entregar.
A realidade, no entanto, é mais complexa do que tal sumário permite supor. Em situações de conflito armado, as definições sobre mocinhos e bandidos tornam-se no mínimo borradas; quem parece deter a razão hoje pode transformar-se no vilão de amanhã.
Tendo isso em vista, a comunidade internacional deve agir com toda a cautela antes de engajar-se em campanhas militares. O pilar da convivência entre nações é o princípio da autodeterminação dos povos. Só se deve cogitar seu rompimento em casos extremos de morticínio.
Nos últimos dias, porém, as forças leais ao candidato vencedor, Ouattara, foram acusadas, por entidades como a Cruz Vermelha, de cometer um massacre em seu avanço rumo a Abidjã. Grupos humanitários estimam em 800 os assassinados, o pior episódio de violência em quatro meses. O caso deveria servir como um alerta.
Os últimos desdobramentos demonstram, entretanto, que a comunidade internacional cogita abandonar a prudente distância do confronto. Um helicóptero da ONU disparou mísseis contra tropas de Gbagbo em Abidjã, após seguidos ataques contra sua missão de paz no país. O argumento de autodefesa não atenua o risco inerente ao fato de as forças internacionais começarem a tomar partido na incipiente guerra civil.
A ONU e as potências devem atuar de modo decidido para proteger civis. Mas precisam evitar ao máximo imiscuir-se no que é, acima de tudo, uma disputa interna.


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