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FERNANDO GABEIRA
A sorte numa sexta-feira
RIO DE JANEIRO - Hoje é um dia
especial. Não vou percorrer labirintos em Tegucigalpa nem mergulhar
nos abismos oceânicos, de onde se
extrai petróleo. Hoje é sexta, e o que
acontecer em Copenhague terá um
efeito direto em nossas vidas.
Hoje é sexta. Vou ouvir, como
sempre, as batidas do baile funk,
um ou outro tiro perdido, motoristas tresloucados tomando as ruas,
enfim, hoje em dia, acontece nas
noites de sexta quase tudo o que era
reservado ao sábado no poema de
Vinicius de Moraes.
Oitenta e cinco por cento dos cariocas, dizem as pesquisas, querem
a Olimpíada no Rio. Os habitantes
de Tóquio querem menos a escolha
de sua cidade. Apenas 56%. Em
Chicago há movimento contrário,
pois temem-se os gastos excessivos
e a roubalheira de políticos.
As autoridades declararam feriado, há festas programadas na orla.
Espero encontrar a feira livre na
Nossa Senhora da Paz. É tempo de
jabuticabas e surgiu uma romã
imensa, cinematográfica.
Dizem que Lula falará sobra a importância da Olimpíada para a autoestima dos brasileiros. Nem sei se
isso procede, mas, autoestima pra
cá, autoestima pra lá, estamos sempre vivendo o mesmo enredo.
Deveria haver uma hora para cessar a autoestima. Meia noite é pouco, reconheço. Mas, às duas da manhã, quando todos os bares já fecharam, todas as autoestimas deveriam
também ser negadas. Hora em que
deveríamos aceitar o nosso destino
e dormir em paz, como quem mora
em Tóquio, Chicago ou Madri.
Se o Rio vencer, esperam-se investimentos maciços. Tivemos um
Pan que nos deixou alguns elefantes brancos e muitas dúvidas sobre
a aplicação do dinheiro.
Em caso derrota, com as ruas
cheias e alguma bebida, talvez seja
preciso acalmar as pessoas. Convocou-se uma festa antecipada. De
qualquer forma, à noite dançamos
o funk.
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