São Paulo, segunda-feira, 11 de maio de 2009

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Viés latino no cinema atrai grande público

Diretores de Brasil e México encontram seu nicho em Hollywood

Por LARRY ROHTER

CIDADE DO MÉXICO - Cha Cha Cha Films é o nome de uma nova produtora de cinema fundada por três dos mais bem-sucedidos e aclamados diretores mexicanos: Alfonso Cuarón, Alejandro González Iñárritu e Guillermo del Toro. Mas não adianta procurar um escritório, número telefônico ou qualquer outra coisa: você não encontrará nada.
Isso não acontece apenas porque os diretores são pouco afeitos à burocracia e aos custos gerais desnecessários. Depois de criarem vários sucessos de bilheteria e conquistarem indicações e estatuetas do Oscar nos últimos anos com filmes como "Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban" (Cuarón), "Babel" (González Iñárritu) e "O Labirinto do Fauno" (Del Toro), os três diretores agora podem escolher entre projetos de orçamento grande, apoiados por grandes estúdios, que os levam por todo o mundo.
Mas isso significa que os Três Amigos, como Hollywood passou a chamá-los, já não passam tanto tempo juntos quanto gostariam. Assim, um relacionamento comercial oficial, com muitos telefonemas e mensagens de e-mail de um lado a outro do planeta, lhes pareceu a melhor maneira de levarem adiante a conversa sobre cinema que começaram a ter desde que estavam se iniciando em suas carreiras e primeiro se conheceram na Cidade do México, duas décadas atrás.
"Não temos uma declaração de missão", disse Del Toro, 44, que já dirigiu também "Hellboy" e "A Espinha do Diabo" e no momento trabalha sobre "The Hobbit", na Nova Zelândia. "Neste momento, podemos fazer qualquer coisa -um filme em francês ou em espanhol, juntos ou separados, produzindo ou não produzindo, ajudando com os roteiros e com um pingue-pongue de ideias. É mais uma empresa virtual que uma grande empresa de desenvolvimento de cinema."
Para o cinema latino-americano, o experimento da produtora Cha Cha Cha também representa uma nova maneira de relacionar-se com Hollywood. Diretores de gerações anteriores, como Glauber Rocha e Ruy Guerra, para citar dois exemplos brasileiros, frequentemente definiam suas identidades abertamente como estando em oposição a Hollywood e se orgulhavam em operar fora do sistema dos grandes estúdios.
Mas os diretores da Cha Cha Cha e seus contemporâneos, que incluem brasileiros como Walter Salles e Fernando Meirelles, se movimentam facilmente dentro e fora de Hollywood, usando o sistema dos grandes estúdios quando ele parece ser apropriado para um projeto particular, mas buscando financiamento e marketing em outras partes quando esse não é o caso.
"Esses caras são intrinsecamente mexicanos e aderem a sua origem e tudo que a acompanha", comentou David Linde, presidente da Universal Pictures, falando dos Três Amigos. "Mas eles têm uma perspectiva global, por mais que eu odeie essa frase. Para eles, é fascinante contar histórias em México, Espanha, Reino Unido e Estados Unidos, porque aquilo que os motiva é simplesmente um interesse no que significa ser
humano."
O primeiro filme lançado sob a bandeira da Cha Cha Cha é "Rudo y Cursi" (Rude e brega, em tradução literal), que os três sócios produziram, mas não dirigiram. É uma comédia agridoce sobre dois irmãos de origem mexicana humilde que se tornam grandes astros do futebol quase da noite para o dia. Mimados por seu sucesso, veem suas carreiras desabar com a mesma rapidez com que deslancharam.
Os irmãos Tato e Beto Verdusco são representados por Gael García Bernal e Diego Luna, provavelmente mais conhecidos por seus papéis em "E Sua Mãe Também", que os levou à fama. Indicado a um Oscar de melhor roteiro original em 2002, esse filme foi dirigido por Alfonso Cuarón, 47, que o escreveu com seu irmão Carlos, 42. Carlos Cuarón faz sua estreia na direção de um longa com "Rudo y Cursi", num ambiente que só pode ser descrito como familiar.
"Rudo y Cursi", que será lançado em todo o mundo este ano, é ambientado no mundo dos esportes e trata de questões como corrupção e celebridade, mas "é realmente um filme sobre irmãos", disse Carlos Cuarón em entrevista na Cidade do México. Parece ser uma avaliação correta, não apenas devido à trama e ao envolvimento de Alfonso Cuarón como coprodutor, mas também porque del Toro e González Iñárritu, 45, são "como dois irmãos mais velhos para mim", disse Carlos.
Isso significa que eles se dispõem a fazer críticas construtivas duras para ajudar seu irmão menor em sua nova carreira de diretor. "Acho que não é possível encontrar produtores mais exigentes que esses três, numa maneira positiva", disse Diego Luna. "Eles deram a Carlos uma estrutura e um mecanismo que permitiu que seu talento florescesse, mas também o questionaram muito. O que você quer transmitir? Tem certeza que quer dizer isso? Essa é a melhor maneira de dizê-lo?."


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