|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Brasil poupa regime norte-coreano na ONU
Apesar de pressão japonesa, país se abstém em votação que condena ditadura asiática por "graves violações" de direitos humanos
Itamaraty, que planeja abrir ali embaixada, diz querer "dar chance" a Pyongyang para melhorar colaboração com o conselho da ONU
MARCELO NINIO
DE GENEBRA
O Conselho de Direitos Humanos da ONU aprovou ontem
uma resolução que condena
duramente as "graves violações" dos direitos humanos na
Coreia do Norte e exorta a ditadura asiática a rever a decisão
de barrar as missões de inspeção da organização. O texto foi
adotado sem o endosso do Brasil, que se absteve na votação.
O governo brasileiro vinha
sendo pressionado pelo Japão,
um dos patrocinadores da resolução, a apoiar o texto. Em gestões feitas em Brasília e Genebra, os japoneses tentavam
convencer o Itamaraty de que
um voto de abstenção seria
uma forma de incentivar os
abusos norte-coreanos.
Não funcionou. O Brasil preferiu evitar o confronto e dar
uma chance à Coreia do Norte,
mesmo depois da apresentação
de um relatório repleto de atrocidades cometidas pelo regime.
Fome, tortura e perseguição
política fazem a rotina de horror dos norte-coreanos, segundo o documento. Uma tirania
onde até vestir jeans, usar a internet ou assistir a novelas da
Coreia do Sul pode dar cadeia.
A votação era uma das mais
esperadas da atual sessão do
Conselho de Direitos Humanos, que termina hoje em Genebra. A atenção cresceu com a
notícia de que o isolado regime
norte-coreano prepara o lançamento de um míssil de longo alcance, o que preocupou os vizinhos. O intuito, diz Pyongyang,
é pôr um satélite em órbita.
No final, a resolução foi aprovada com 26 votos a favor, 15
abstenções e 6 contra. O documento "deplora os abusos sistemáticos", como o uso de tortura e campos de trabalho forçado. Além disso, renova por
um ano o mandato do relator
especial até agora barrado.
"Janela de oportunidade"
Ao justificar seu voto de abstenção, o Brasil disse que espera que a Coreia do Norte aproveite a "janela de oportunidade" para melhorar sua colaboração com o Conselho. Em dezembro, o país passará pelo
exame periódico (UPR, na sigla
em inglês) a que todos os membros da ONU são submetidos.
Segundo a embaixadora do
Brasil em Genebra para direitos humanos, Maria Nazareth
Farani Azevêdo, o voto do Brasil nada tem a ver com o fato de
o país estar prestes a abrir uma
embaixada em Pyongyang, como chegou a ser levantado por
organizações humanitárias.
O país decidiu "dar uma
chance" aos norte-coreanos,
disse Farani, diante da promessa de que colaborarão com os
mecanismos do Conselho, entre eles o UPR. "Não estamos
passando a mão na cabeça deles. Esperamos respostas."
Após a votação, o embaixador japonês disse que estava
"decepcionado" com a decisão
do Itamaraty. "Tivemos intensos contatos com o governo
brasileiro, aqui e em Brasília,
mas não adiantou", afirmou
Sumi Shigeko. Para ele, "não é
claro" o motivo da abstenção.
A decisão do Brasil de não
condenar regimes acusados de
violações graves, como Sudão,
Congo e Coreia do Norte, é alvo
de críticas de defensores dos direitos humanos. O Itamaraty
alega ser mais produtivo buscar
o diálogo do que isolá-los.
Na mesma sessão, foram votadas cinco resoluções ligadas
ao conflito israelo-palestino,
algumas com fortes críticas a
Israel. O Brasil votou a favor de
todas elas, que foram aprovadas por quase unanimidade.
Texto Anterior: MST e grupos paraguaios fecham ponte da Amizade Próximo Texto: Míssil: Coreia do Norte diz que punição da ONU será "ato hostil" Índice
|