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Congresso dá aval e Argentina terá eleição antecipada
Proposta da Casa Rosada aprovada pelo Senado ontem adianta escolha de parlamentares nacionais em 4 meses
Eleição em meio a crise econômica e choque com campo põe à prova governo de Cristina Kirchner, que procura esvaziar oposição
Presidência da Argentina
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Cristina a bordo de navio-escola inaugurado ontem; para ela, eleição em junho evitará "suicídio"
THIAGO GUIMARÃES
EM ROSÁRIO (ARGENTINA)
A corrida eleitoral começou
ontem na Argentina com a
aprovação, pelo Senado, do
projeto presidencial que antecipa as eleições legislativas nacionais em quatro meses, de 25
de outubro para 28 de junho.
A vitória da presidente Cristina Kirchner -42 votos a favor
e 25 contra- já se desenhava
anteontem, quando dois senadores opositores anunciaram
voto pela iniciativa oficial. O
governo precisava de 37 votos
para sancionar a mudança no
calendário, aprovada na semana passada pela Câmara de Deputados.
Foram apenas 13 dias entre a
aprovação nas duas Casas do
Congresso e o anúncio do projeto por Cristina, quando a presidente afirmou que seria "suicida" para a Argentina se envolver em uma campanha eleitoral
"permanente" em meio à crise
econômica mundial.
Para analistas, Cristina e seu
marido e antecessor, Néstor
Kirchner (2003-2007), buscam
encurtar tempos em meio a
frentes de desgaste: retração
econômica, articulação da oposição, fuga de aliados, perda de
popularidade, conflito com o
setor rural e aumento da demanda popular por segurança.
As eleições de junho renovam metade da Câmara e um
terço do Senado. Em jogo, a governabilidade da gestão Cristina, que tenta manter uma
maioria cada vez mais estreita
no Congresso. Haverá também
eleições legislativas regionais.
A capital, Buenos Aires, e 11 das
23 Províncias já anunciaram a
antecipação de suas votações.
Plebiscito
Desde a volta da democracia
na Argentina, em 1983, as eleições legislativas funcionam como um plebiscito do governo
de turno. As gestões que saíram
derrotadas desse pleito -Raul
Alfonsín (1983-1989) e a segunda de Carlos Menem (1995-1999)- não conseguiram vencer as eleições presidenciais
que se seguiram.
O próprio governo não esconde que vai para o "tudo ou
nada" eleitoral. "Queremos que
em 28 de junho nosso povo decida entre consolidar um modelo e a governabilidade ou dar
marcha ré", afirmou Néstor,
atual presidente do Partido
Justicialista (peronista, do governo), em um ato no dia 17.
Com a mudança, os partidos
terão apenas 44 dias (até 9 de
maio) para definir seus candidatos. O voto é em listas fechadas, definidas pelas siglas ou
alianças. No governo, é dada como certa a candidatura de Néstor a deputado federal pela Província de Buenos Aires, maior
colégio eleitoral do país (38%
dos votantes) e considerada
fundamental ao futuro político
dos Kirchner. Cartazes com a
inscrição "Néstor 2009" já podem ser vistos pela capital.
"O governo vai jogar com
Néstor na Província de Buenos
Aires, é quase lógico desde o
ponto de vista da avaliação política do momento", afirmou à
rádio América o líder do governo no Senado, Miguel Pichetto.
As duas principais forças que
enfrentarão o governo em junho se uniram nos últimos meses, na esteira da queda da
aprovação a Cristina, hoje em
cerca de 30%, após o conflito
com o campo.
São elas uma aliança de centro-direita entre PRO (partido
do prefeito de Buenos Aires,
Maurício Macri) e peronismo
dissidente e outra, de centro-esquerda, entre a tradicional
União Cívica Radical, Partido
Socialista e a Coalizão Cívica,
da segunda colocada nas presidenciais de 2007, Elisa Carrió.
Desde o anúncio da antecipação eleitoral, a oposição tenta
manter na agenda pública temas incômodos ao governo, como o "tarifaço" nos serviços públicos, crise rural e aumento da
violência urbana.
Ontem, sexto dia de uma greve agropecuária contra políticas oficiais para o setor, líderes
ruralistas e metalúrgicos protestaram em Armstrong, a 408
km de Buenos Aires, polo
agroindustrial afetado pela retração econômica.
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