São Paulo, sexta-feira, 27 de março de 2009

Próximo Texto | Índice

Congresso dá aval e Argentina terá eleição antecipada

Proposta da Casa Rosada aprovada pelo Senado ontem adianta escolha de parlamentares nacionais em 4 meses

Eleição em meio a crise econômica e choque com campo põe à prova governo de Cristina Kirchner, que procura esvaziar oposição

Presidência da Argentina
Cristina a bordo de navio-escola inaugurado ontem; para ela, eleição em junho evitará "suicídio"

THIAGO GUIMARÃES
EM ROSÁRIO (ARGENTINA)

A corrida eleitoral começou ontem na Argentina com a aprovação, pelo Senado, do projeto presidencial que antecipa as eleições legislativas nacionais em quatro meses, de 25 de outubro para 28 de junho.
A vitória da presidente Cristina Kirchner -42 votos a favor e 25 contra- já se desenhava anteontem, quando dois senadores opositores anunciaram voto pela iniciativa oficial. O governo precisava de 37 votos para sancionar a mudança no calendário, aprovada na semana passada pela Câmara de Deputados.
Foram apenas 13 dias entre a aprovação nas duas Casas do Congresso e o anúncio do projeto por Cristina, quando a presidente afirmou que seria "suicida" para a Argentina se envolver em uma campanha eleitoral "permanente" em meio à crise econômica mundial.
Para analistas, Cristina e seu marido e antecessor, Néstor Kirchner (2003-2007), buscam encurtar tempos em meio a frentes de desgaste: retração econômica, articulação da oposição, fuga de aliados, perda de popularidade, conflito com o setor rural e aumento da demanda popular por segurança.
As eleições de junho renovam metade da Câmara e um terço do Senado. Em jogo, a governabilidade da gestão Cristina, que tenta manter uma maioria cada vez mais estreita no Congresso. Haverá também eleições legislativas regionais. A capital, Buenos Aires, e 11 das 23 Províncias já anunciaram a antecipação de suas votações.

Plebiscito
Desde a volta da democracia na Argentina, em 1983, as eleições legislativas funcionam como um plebiscito do governo de turno. As gestões que saíram derrotadas desse pleito -Raul Alfonsín (1983-1989) e a segunda de Carlos Menem (1995-1999)- não conseguiram vencer as eleições presidenciais que se seguiram.
O próprio governo não esconde que vai para o "tudo ou nada" eleitoral. "Queremos que em 28 de junho nosso povo decida entre consolidar um modelo e a governabilidade ou dar marcha ré", afirmou Néstor, atual presidente do Partido Justicialista (peronista, do governo), em um ato no dia 17.
Com a mudança, os partidos terão apenas 44 dias (até 9 de maio) para definir seus candidatos. O voto é em listas fechadas, definidas pelas siglas ou alianças. No governo, é dada como certa a candidatura de Néstor a deputado federal pela Província de Buenos Aires, maior colégio eleitoral do país (38% dos votantes) e considerada fundamental ao futuro político dos Kirchner. Cartazes com a inscrição "Néstor 2009" já podem ser vistos pela capital.
"O governo vai jogar com Néstor na Província de Buenos Aires, é quase lógico desde o ponto de vista da avaliação política do momento", afirmou à rádio América o líder do governo no Senado, Miguel Pichetto.
As duas principais forças que enfrentarão o governo em junho se uniram nos últimos meses, na esteira da queda da aprovação a Cristina, hoje em cerca de 30%, após o conflito com o campo.
São elas uma aliança de centro-direita entre PRO (partido do prefeito de Buenos Aires, Maurício Macri) e peronismo dissidente e outra, de centro-esquerda, entre a tradicional União Cívica Radical, Partido Socialista e a Coalizão Cívica, da segunda colocada nas presidenciais de 2007, Elisa Carrió.
Desde o anúncio da antecipação eleitoral, a oposição tenta manter na agenda pública temas incômodos ao governo, como o "tarifaço" nos serviços públicos, crise rural e aumento da violência urbana.
Ontem, sexto dia de uma greve agropecuária contra políticas oficiais para o setor, líderes ruralistas e metalúrgicos protestaram em Armstrong, a 408 km de Buenos Aires, polo agroindustrial afetado pela retração econômica.


Próximo Texto: MST e grupos paraguaios fecham ponte da Amizade
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.