São Paulo, domingo, 24 de janeiro de 2010

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Transição após ditadura explica rumos distintos

DA REPORTAGEM LOCAL

O modo como Argentina e Chile saíram das últimas ditaduras militares também ajuda a entender os caminhos seguido pelos países.
"A ditadura chilena [1973-90] deixou a economia em crescimento e protestos sociais reprimidos. A argentina [1976-83] deixou o país endividado, derrotado na guerra [das Malvinas] e com conflito social latente", diz Osvaldo Kacef, da Cepal.
Amostra disso é que o governo Raúl Alfonsín (1983-89), o primeiro pós-ditadura na Argentina, enfrentou 13 greves gerais e antecipou a entrega do poder em meio à hiperinflação e a saques.
Para o analista argentino Sergio Berensztein, a violenta ditadura local (12 mil mortos ou desaparecidos confirmados) reduziu a capacidade gerencial do Estado, ao enfraquecer o sistema universitário. "Em consequência, falta gente especializada e com vocação no setor público."
No Chile, dizem dados oficiais, a ditadura deixou 3.191 mortos ou desaparecidos.
Mas Chile e Argentina enfrentam desafios em comum, como o desemprego que ronda 10% e a criminalidade, a maior preocupação dos chilenos e a segunda dos argentinos, atrás da desocupação.
Ficam, contudo, cenas díspares que os países geram: poucas horas após a eleição chilena, o derrotado indo ao QG do vencedor para cumprimentá-lo; na Argentina, Cristina bradando contra o presidente do BC, a juíza que o restituiu e o vice opositor.
Diferenças que refletem, por um lado, certo consenso na sociedade chilena, em que o debate se concentra mais em como fazer melhor as coisas do que em mudanças radicais. Do lado argentino, expressões de uma sociedade que ainda digere frustrações e discute que rumo seguir.
Retratos que, para o historiador argentino Luis Alberto Romero, a psicologia social ajuda a explicar. "No Chile não há paixão política, quase metade da população não vota. Na Argentina tudo é apaixonado, intenso." (TG)

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