São Paulo, terça-feira, 23 de setembro de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / CRISE ECONÔMICA

Obama e McCain querem limitar resgate

Candidatos apóiam proposta do governo para salvar Wall Street, mas tanto democrata quanto republicano pedem supervisão e restrições

Presidenciáveis afirmam que crise não mudará seus planos econômicos, nem mesmo corte de impostos proposto por governista

Emmanuel Dunand/France Presse
Obama faz comício em Wisconsin

ANDREA MURTA
DE NOVA YORK

Apesar do apoio inicial, o democrata Barack Obama e o republicano John McCain explicitaram uma série de restrições ontem ao plano da Casa Branca de gastar estimados US$ 700 bilhões para resgatar papéis "podres" de Wall Street. Eles sugeriram grupos independentes para monitorar a aplicação do dinheiro e pediram garantias de que executivos não levarão bônus milionários ao deixar para trás instituições falidas.
Mas ambos também desconsideraram o tamanho do rombo que o plano fará nas já problemáticas finanças públicas do país e prometeram manter as linhas gerais de suas propostas econômicas apesar da crise -o que, no caso de McCain, inclui cortar impostos.
O republicano, cuja retórica recente contradiz sua histórica lealdade a políticas de não-intervenção, disse que "está claro que o Congresso deve agir rapidamente". "Mas (...) peço que considerem a proposta com muito cuidado", emendou.
Ele sugeriu que a aplicação do plano deve ter a supervisão de um grupo formado pelo megainvestidor Warren Buffet -que apóia Obama-, o prefeito de Nova York, o independente Michael Bloomberg, e o ex-pré-candidato republicano Mitt Romney.
"Nunca na história de nosso país tanto poder e dinheiro foram concentrados nas mãos de uma pessoa", disse, em alusão ao secretário do Tesouro, Henry Paulson. "Quando estamos falando de até US$ 1 trilhão [o quanto alguns senadores republicanos afirmam que o resgate atingirá], dizer "confie em mim" não é o suficiente."
A sugestão de McCain reflete não só sua tentativa de se mostrar um candidato livre de amarras partidárias, mas coroou a recente mudança de rumo de um senador com forte passado de desregulador.
No fim de semana, ele sugeriu também que o salário anual máximo de executivos de empresas resgatadas pelo governo tenha teto fixado em US$ 400 mil -mesma quantia recebida pelo presidente dos EUA.
Mas McCain disse ainda que o plano de resgate não alteraria suas propostas econômicas básicas, baseadas em cortes de impostos para empresas e enxugamento dos gastos governamentais. "Creio que ainda assim podemos equilibrar o Orçamento", afirmou, contrariando a maioria dos analistas.
Sua proposta agrada à base republicana, mas não ficou claro como ela seria possível: mesmo sem o gasto de US$ 700 bilhões em Wall Street, os EUA já têm déficit orçamentário que pode chegar ao recorde de mais de US$ 400 bilhões em 2008.

Democratas
De seu lado, Obama também procurou transmitir mensagem de bipartidarismo. O grupo de supervisão para a proposta de resgate idealizado por ele incluiria o presidente do Fed (banco central americano) e membros indicados por republicanos e democratas.
O esforço dos dois candidatos para mostrar imagem de independência de seus partidos gerou situações curiosas: enquanto o republicano McCain aventou nomear o procurador-geral do Estado de Nova York, o democrata Andrew Cuomo, como presidente da SEC (agência reguladora dos mercados nos EUA), Obama se recusou a dizer se demitiria o republicano Henry Paulson da Secretaria do Tesouro durante a crise.
"Uma pessoa nova agora será muito difícil. Só direi que qualquer transição deverá ser feita com muito cuidado", afirmou.
O democrata reforçou, porém, que o plano de resgate "não deve ser um cheque em branco" a Paulson. Ele também deixou claro que o resgate deve ser estendido a famílias americanas com problemas para pagar as prestações da casa própria -as mesmas demandas dos democratas no Congresso.
E, assim como seu rival, Obama afirmou anteontem que suas propostas econômicas em geral não serão alteradas.
Ele mantém planos de elevar gastos governamentais em algumas áreas, como reformar o atendimento à saúde e reduzir custos da educação superior para a população, além de aumentar impostos para empresas e famílias que ganhem mais de US$ 250 mil por ano.


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