São Paulo, segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Falhas prejudicam investigação de massacre

Chefe da equipe que apura morte de 18 camponeses no departamento boliviano de Pando em setembro diz que provas não foram preservadas

De acordo com o advogado Rodolfo Mattarollo, informe previsto para ser entregue em novembro deve apontar inação das autoridades

CLAUDIO DANTAS SEQUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O advogado argentino Rodolfo Mattarollo, chefe da comissão da Unasul (União de Nações Sul-americanas) que investiga o massacre de Pando, diz que falhas na preservação de provas periciais devem comprometer a identificação dos responsáveis pelo ataque a camponeses bolivianos em setembro no departamento que faz fronteira com o Brasil.
"Lamentavelmente temos a impressão de que os promotores não tomaram todos os cuidados para a preservação das provas, por falta de elementos materiais ou uma certa inexperiência profissional", disse Mattarollo à Folha, por telefone, de La Paz.
Questionado sobre se esse problema dificulta a identificação dos agressores, Mattarollo disse que "não ajuda em nada".
O especialista argentino informou que fará recomendações para sanar "deficiências do sistema judicial" boliviano. "Queremos mostrar nesse relatório diferentes aspectos como o da inação das autoridades, examinar a possível responsabilidade dos autores intelectuais, se os grupos armados são grupos estruturados ou se o ataque foi planejado", afirmou. Segundo o argentino, as informações obtidas até agora confirmam a morte de 18 pessoas, quase todas camponeses aliados de Morales.
Segundo Mattarollo, já foram ouvidas testemunhas na Bolívia e no Brasil. Tais depoimentos estão sendo digitalizados e serão cruzados para que se possa chegar a alguma conclusão. "A prova testemunhal será a mais importante nesse caso. Mas há outras provas que estamos recolhendo. Há muitos vídeos. Um em especial, cuja autenticidade estamos tentando provar. Ele mostra gente cruzando o rio a nado sob fogo de metralhadoras. Se for autêntico, é muito forte", disse.
O relatório final da investigação será entregue só no final de novembro. Mattarollo quer que o documento sirva de referência em direitos humanos para outros episódios na região. Na sexta-feira passada, o advogado se reuniu com representantes das embaixadas da União Européia na Bolívia.
"A UE ofereceu investigadores. Mas temos investigadores muito bons na América Latina, como resultado de nossa triste história de ditadura militares. O que falta não são técnicos forenses e antropólogos, mas recursos", disse Mattarollo, que espera contar com apoio financeiro dos europeus. "Isso abre as portas para uma futura colaboração entre UE e Unasul."
A comissão da Unasul é composta por representantes de todos os países da região, exceto Paraguai, Suriname e Guiana. O Brasil é representado por Fermino Fechio, da Secretaria Especial dos Direitos Humanos (Sedh). Ele visitou opositores bolivianos que, depois do confronto, se refugiaram na localidade fronteiriça de Brasiléia, em situação precária.


Texto Anterior: Afeganistão: Taleban mata seqüestrados em Candahar
Próximo Texto: Impasse segue na Bolívia após 2º dia de sessão
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.