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Sentença de tragédia em boate revolta argentinos
Banda Callejeros, que incentivou uso de rojão, é absolvida da morte de 194
Parentes de vítimas tentam invadir tribunal; dono do clube noturno Cromañon, palco de incêndio em 2004, é condenado a 20 anos
SILVANA ARANTES
DE BUENOS AIRES
A absolvição dos integrantes
da banda argentina de pop rock
Callejeros da responsabilidade
pelo incêndio que matou 194
espectadores de um show do
grupo, em 30 de dezembro de
2004, derivou ontem em confronto policial num tribunal no
centro de Buenos Aires.
Inconformados com a sentença e gritando ofensas, parentes de vítimas tentaram invadir o tribunal, onde a banda
acompanhava a audiência. Foram impedidos, a golpes de cassetete e empurrões, por policiais da unidade antimotim.
A revolta persistiu até que
tanques da Polícia Federal dispersassem os protestos, lançando jatos de água. Casos de
ferimentos leves e desmaios foram atendidos no local, por
uma ambulância do sistema
municipal de saúde.
A ira dos parentes de vítimas
contra os Callejeros se apoia
num dado da investigação sobre o acidente, que apontou um
rojão lançado da plateia -prática incentivada pelo grupo-
como a origem do incêndio na
boate Cromañon, localizada
num bairro de classe média baixa de Buenos Aires. Os pais das
vítimas também consideram a
banda responsável pela organização do show, incluindo os aspectos de segurança.
Fãs dos Callejeros também
se concentraram ontem diante
do tribunal e comemoraram a
absolvição do grupo. A banda
reuniu cerca de 15 mil pessoas
em show no fim de semana passado, o que os parentes das vítimas consideraram um acinte.
Depois de dispersados da sede do tribunal pela polícia, os
parentes se dirigiram em passeata ao local da tragédia e seguiram protestando contra o
que classificaram como falha
da Justiça.
Na noite do incêndio que matou 194 e feriu 1.432, as saídas
de emergência da boate estavam trancadas pelo lado de fora, e o sistema de combate a incêndio era inoperante.
Por conta dessas irregularidades, além da banda, foram
processados o dono da boate,
Omar Chabán (condenado ontem a 20 anos de prisão); um
policial acusado de receber suborno de Chabán (condenado a
18 anos de prisão); o empresário dos Callejeros (condenado a
18 anos de prisão); duas funcionárias da prefeitura responsáveis por fiscalizar casas noturnas (condenadas a dois anos de
prisão cada uma) e o assistente
de Chabán (condenado a um
ano de prisão). Cabe recurso de
todas as sentenças.
A pena pedida pela Promotoria para Chabán era de 23 anos
de reclusão. Para os integrantes
dos Callejeros, pediam-se entre
15 anos e 22 anos de prisão. A
íntegra da sentença proferida
ontem, de 61 pontos e 2.424 páginas, foi divulgada pelo tribunal pela internet.
O incêndio da boate Cromañon provocou o impeachment
do então prefeito de Buenos Aires, Aníbal Ibarra, em 2006.
Antes da tragédia, ele era considerado o candidato do presidente Néstor Kirchner (2003-2007) à sua sucessão.
Uma varredura nas casas noturnas portenhas após o incêndio mostrou que as más condições de segurança da Cromañon eram norma, e não exceção. Todos os clubes da cidade
foram fechados por até três
meses para se adequar. A capacidade administrativa de Ibarra
foi desacreditada.
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