São Paulo, terça-feira, 20 de julho de 2010

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Acolhida a dissidentes cubanos se torna tiro no pé na Espanha

Presos criticam governo socialista e se aproximam da oposição

LUISA BELCHIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE MADRI

Encarado pela Espanha como uma chance de fazer a União Europeia retomar as conversações com Havana, o envio de ex-presos do regime cubano ao país está se tornando um tiro no pé do governo de José Luis Rodriguez Zapatero.
Além de se aproximar da oposição, os cubanos lançaram ontem manifesto contra a derrubada da Posição Comum - mecanismo que condiciona a relação dos europeus com Cuba ao cumprimento dos direitos humanos na ilha. Justamente o contrário do que a Espanha pretendia ao intermediar a libertação dos presos com Havana e a Igreja Católica.
"Pedimos aos europeus que não abrandem as sanções a Cuba e mantenham a Posição Comum", disse o dissidente cubano Ricardo González, que assinou uma carta "a todos os chanceleres europeus" junto com outros nove ex-presos enviados ao país.
"Fomos enganados pelo governo espanhol", disse o dissidente Julio Galvez, em alusão às condições em que foram recebidos em Madri.
Estão hospedados em um albergue no subúrbio da capital até serem enviados a conjuntos habitacionais.
Eles devem receber status jurídico de imigrantes comuns -e não o de refugiados, como querem. O Ministério de Assuntos Exteriores disse ontem que está cumprindo todas as medidas combinadas no acordo com o governo cubano.

CRÍTICAS
Ao lado do PP (Partido Popular), que lidera a oposição a Zapatero, os cubanos disseram que vão levar a petição ao Parlamento Europeu.
"O governo [espanhol] está percebendo a burrada que fez, porque os cubanos estão falando mais do que eles gostariam", disse à Folha o deputado Teófilo de Luis (PP).
O líder do PP, José Mariano Rajoy, principal adversário político de Zapatero, chamou os dissidentes para uma reunião a portas fechadas.
E, ontem, a presidente da Comunidade Autônoma de Madri, Esperanza Aguirre, também do PP, chamou de "um escândalo sem precedentes" o suposto descaso do governo com os cubanos .
Procurado pela Folha, o PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol, de Zapatero) apontou um "oportunismo" por parte do PP. Um diplomata admitiu, porém, que a equipe do chanceler Miguel Ángel Moratinos está preocupada com as recentes declarações dos cubanos, o que seria uma pedra no caminho da tentativa da Espanha de recuperar o protagonismo nas negociações da Europa com a América Latina.

Chile e EUA podem receber prisioneiros libertados por Havana
folha.com.br/mu769404


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