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Acolhida a dissidentes cubanos
se torna tiro no pé na Espanha
Presos criticam governo socialista e se aproximam da oposição
LUISA BELCHIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE MADRI
Encarado pela Espanha
como uma chance de fazer a
União Europeia retomar as
conversações com Havana, o
envio de ex-presos do regime
cubano ao país está se tornando um tiro no pé do governo de José Luis Rodriguez
Zapatero.
Além de se aproximar da
oposição, os cubanos lançaram ontem manifesto contra
a derrubada da Posição Comum - mecanismo que condiciona a relação dos europeus com Cuba ao cumprimento dos direitos humanos
na ilha. Justamente o contrário do que a Espanha pretendia ao intermediar a libertação dos presos com Havana e
a Igreja Católica.
"Pedimos aos europeus
que não abrandem as sanções a Cuba e mantenham a
Posição Comum", disse o dissidente cubano Ricardo González, que assinou uma carta
"a todos os chanceleres europeus" junto com outros nove
ex-presos enviados ao país.
"Fomos enganados pelo
governo espanhol", disse o
dissidente Julio Galvez, em
alusão às condições em que
foram recebidos em Madri.
Estão hospedados em um
albergue no subúrbio da capital até serem enviados a
conjuntos habitacionais.
Eles devem receber status
jurídico de imigrantes comuns -e não o de refugiados, como querem. O Ministério de Assuntos Exteriores
disse ontem que está cumprindo todas as medidas
combinadas no acordo com o
governo cubano.
CRÍTICAS
Ao lado do PP (Partido Popular), que lidera a oposição
a Zapatero, os cubanos disseram que vão levar a petição
ao Parlamento Europeu.
"O governo [espanhol] está percebendo a burrada que
fez, porque os cubanos estão
falando mais do que eles gostariam", disse à Folha o deputado Teófilo de Luis (PP).
O líder do PP, José Mariano
Rajoy, principal adversário
político de Zapatero, chamou
os dissidentes para uma reunião a portas fechadas.
E, ontem, a presidente da
Comunidade Autônoma de
Madri, Esperanza Aguirre,
também do PP, chamou de
"um escândalo sem precedentes" o suposto descaso do
governo com os cubanos .
Procurado pela Folha, o
PSOE (Partido Socialista
Operário Espanhol, de Zapatero) apontou um "oportunismo" por parte do PP. Um
diplomata admitiu, porém,
que a equipe do chanceler
Miguel Ángel Moratinos está
preocupada com as recentes
declarações dos cubanos, o
que seria uma pedra no caminho da tentativa da Espanha
de recuperar o protagonismo
nas negociações da Europa
com a América Latina.
Chile e EUA podem
receber prisioneiros
libertados por Havana
folha.com.br/mu769404
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