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No Congresso, CEO da BP rejeita culpa
Tony Hayward pede "desculpas aos EUA", mas afirma não ver prova de comportamento descuidado da empresa
Executivo diz não ter participado de decisão sobre perfuração de poço; congressistas cobram sua demissão
ANDREA MURTA
DE WASHINGTON
Enfrentando dura sabatina na Câmara dos Representantes dos EUA ontem, o CEO
(executivo-chefe) da petroleira BP, Tony Hayward, deu
um testemunho ensaiado e
evasivo que aumentou a irritação de políticos e do país
com o gigantesco vazamento
no golfo do México.
Em frase que repetiu várias vezes em audiência da
Comissão de Energia e Comércio da Câmara, Hayward
disse que "não estava envolvido no processo decisório"
de construção da plataforma
que explodiu em 20 de abril.
Enquanto sofria cerco dos
deputados, ele dizia que "a
investigação sobre o acidente está em curso".
O vazamento, estimado
em 60 mil barris de petróleo
diários, é o maior acidente
ecológico da história americana, afetando milhares nas
costas da Flórida, da Louisiana e de outros Estados.
Só será interrompido por
completo em agosto, quando
deve terminar a construção
de dois poços de alívio. A explosão matou 11 funcionários
de uma terceirizada da BP.
A audiência foi uma rara
ocasião em que republicanos
e democratas estavam unidos ante um inimigo comum.
Mesmo assim, a oposição
fez várias críticas ao governo
no início da sessão, uma lembrança do dano contínuo que
o vazamento vem provocando na imagem do presidente
Barack Obama.
Hayward tentou se distanciar da culpa pelo acidente.
Enquanto deputados mostravam e-mails de funcionários
da BP que expunham conhecimento de problemas e riscos, ele reiterou não saber
nada sobre o poço até o acidente e completou: "Não vi
nenhuma prova de comportamento descuidado".
Num dos documentos de
posse da Câmara, um funcionário da BP descreve a perfuração como "um pesadelo";
noutro, uma terceirizada diz
ser "altamente improvável"
que certas operações funcionassem com segurança.
"Eu vi os documentos,
[mas] não tirei conclusões",
disse o CEO. "É preciso esperar o fim das investigações."
"DEVASTADO"
Pressionado, disse se sentir "muito responsável" e estar "totalmente devastado".
"Não quero saber se você
está abalado, quero saber se
cumpriu seus compromissos
com a segurança", retrucou o
democrata Henry Waxman.
Sugestões sobre sua demissão foram contínuas. O
CEO respondia que "no momento" está concentrado na
resposta ao vazamento.
Para isso, disse, buscou
ajuda globalmente. "Há várias centenas de entidades
envolvidas nos esforços",
afirmou. Citou inclusive a estatal brasileira Petrobras.
Era opinião comum entre
deputados que a BP se preocupou mais em conter gastos
do que com a segurança, o
que Hayward negou.
"Se isso ocorreu, agirei
[contra os responsáveis]. Segurança é central na BP."
Hayward também pediu
desculpas aos EUA. "Sinto
muito, muito mesmo. É óbvio
que eu e a BP nos arrependemos do que aconteceu."
Foi de pouca ajuda. "Todos nos EUA estamos totalmente enojados", afirmou o
democrata Eliot Engel.
Uma única manifestação
semelhante a apoio foi duramente criticada depois.
O republicano Joe Barton
pediu desculpas a Hayward
pelo que viu como "politização" da crise e se disse "envergonhado" pela pressão
colocada sobre a BP pela Casa Branca. Ante o efeito negativo do comentário, Barton
mais tarde se retratou.
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