São Paulo, sexta-feira, 18 de junho de 2010

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No Congresso, CEO da BP rejeita culpa

Tony Hayward pede "desculpas aos EUA", mas afirma não ver prova de comportamento descuidado da empresa

Executivo diz não ter participado de decisão sobre perfuração de poço; congressistas cobram sua demissão


ANDREA MURTA
DE WASHINGTON

Enfrentando dura sabatina na Câmara dos Representantes dos EUA ontem, o CEO (executivo-chefe) da petroleira BP, Tony Hayward, deu um testemunho ensaiado e evasivo que aumentou a irritação de políticos e do país com o gigantesco vazamento no golfo do México.
Em frase que repetiu várias vezes em audiência da Comissão de Energia e Comércio da Câmara, Hayward disse que "não estava envolvido no processo decisório" de construção da plataforma que explodiu em 20 de abril.
Enquanto sofria cerco dos deputados, ele dizia que "a investigação sobre o acidente está em curso".
O vazamento, estimado em 60 mil barris de petróleo diários, é o maior acidente ecológico da história americana, afetando milhares nas costas da Flórida, da Louisiana e de outros Estados.
Só será interrompido por completo em agosto, quando deve terminar a construção de dois poços de alívio. A explosão matou 11 funcionários de uma terceirizada da BP.
A audiência foi uma rara ocasião em que republicanos e democratas estavam unidos ante um inimigo comum.
Mesmo assim, a oposição fez várias críticas ao governo no início da sessão, uma lembrança do dano contínuo que o vazamento vem provocando na imagem do presidente Barack Obama.
Hayward tentou se distanciar da culpa pelo acidente. Enquanto deputados mostravam e-mails de funcionários da BP que expunham conhecimento de problemas e riscos, ele reiterou não saber nada sobre o poço até o acidente e completou: "Não vi nenhuma prova de comportamento descuidado".
Num dos documentos de posse da Câmara, um funcionário da BP descreve a perfuração como "um pesadelo"; noutro, uma terceirizada diz ser "altamente improvável" que certas operações funcionassem com segurança.
"Eu vi os documentos, [mas] não tirei conclusões", disse o CEO. "É preciso esperar o fim das investigações."

"DEVASTADO"
Pressionado, disse se sentir "muito responsável" e estar "totalmente devastado".
"Não quero saber se você está abalado, quero saber se cumpriu seus compromissos com a segurança", retrucou o democrata Henry Waxman.
Sugestões sobre sua demissão foram contínuas. O CEO respondia que "no momento" está concentrado na resposta ao vazamento.
Para isso, disse, buscou ajuda globalmente. "Há várias centenas de entidades envolvidas nos esforços", afirmou. Citou inclusive a estatal brasileira Petrobras.
Era opinião comum entre deputados que a BP se preocupou mais em conter gastos do que com a segurança, o que Hayward negou.
"Se isso ocorreu, agirei [contra os responsáveis]. Segurança é central na BP."
Hayward também pediu desculpas aos EUA. "Sinto muito, muito mesmo. É óbvio que eu e a BP nos arrependemos do que aconteceu."
Foi de pouca ajuda. "Todos nos EUA estamos totalmente enojados", afirmou o democrata Eliot Engel.
Uma única manifestação semelhante a apoio foi duramente criticada depois.
O republicano Joe Barton pediu desculpas a Hayward pelo que viu como "politização" da crise e se disse "envergonhado" pela pressão colocada sobre a BP pela Casa Branca. Ante o efeito negativo do comentário, Barton mais tarde se retratou.


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