|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Brasileiro que matou colegas no Chade cita legítima defesa
Família de Josafá Pereira, que servia na Legião Estrangeira, afirma que ele sofreu emboscada
Militar que já desertara matou três colegas e um civil; segundo parentes, ele será julgado na França e afirma estar arrependido
LUIS KAWAGUTI
DA REPORTAGEM LOCAL
O militar de origem brasileira Josafá de Moura Pereira, 26,
da Legião Estrangeira -preso
anteontem sob acusação de
matar três militares e um civil
no Chade- disse ontem por telefone a seus familiares que
agiu em legítima defesa após
cair em uma emboscada supostamente preparada por colegas
de farda. Segundo sua irmã Vera Lúcia Paulino, 37, Pereira foi
amarrado por dois colegas da
Legião e teria sido morto se não
tivesse reagido.
Pereira serve na Legião Estrangeira, tropa francesa que
atualmente participa da Eufor
(Força da União Europeia).
O contingente enviado pelo
Conselho de Segurança da
ONU há pouco mais de um ano
visa garantir a segurança no
Chade. O país tem milícias envolvidas no conflito de Darfur,
no vizinho Sudão, e dali também recebe ondas de refugiados. A força visa ainda conter
grupos rebeldes domésticos
-insurgentes tentaram tomar
a capital entre 2006 e 2008.
Desde março, a Eufor está sendo substituída no país por tropas das Nações Unidas.
Na madrugada da última terça, Pereira atirou em um sargento e um soldado da Legião e
em um militar togolês da ONU
dentro de uma base militar na
cidade de Abéché (leste do Chade). Na fuga, também matou
um camponês do Chade.
Reação
"Ele contou que estava dormindo e acordou com as mãos e
os pés amarrados. Dois colegas
haviam armado uma emboscada", disse a irmã Vera. Segundo
outro irmão, Jair Moura Pereira, Josafá já tivera desentendimentos com esses militares
desde 2008, quando desertou
de outra missão da Legião. Na
ocasião, foi mandado à França e
recebeu a missão no Chade como chance de reabilitação.
A família de Pereira acredita
que os colegas dele pretendiam
assassiná-lo com sua própria
arma a fim de simular um suicídio. Porém, o militar teria conseguido se desamarrar e matado os agressores.
De acordo com o chefe de informações públicas da Minurcat (Missão das Nações Unidas
na República Centro-Africana
e no Chade), Michel Bonnardeaux, o capacete azul togolês
que também foi morto por Pereira estava de serviço em uma
torre de vigilância. A ONU é
responsável pela segurança na
base onde está a Legião.
Segundo Bonnardeaux, em
seu depoimento às autoridades
do Chade, Pereira disse que não
se lembrava de ter matado o
militar. Ele teria dito ainda à família que depois de sair da base
comprou um cavalo e roupas
civis de um camponês. Porém,
segundo sua versão, depois de
entregar a mercadoria, o camponês teria tentado atirar nele.
O militar fugiu pelo deserto
mas foi preso tentando beber
água em um poço. Atualmente
ele está sob custódia da polícia,
mas deve ser entregue à França
onde pode ser julgado por um
tribunal militar francês.
"Ele disse que está arrependido, mas não teve escolha. A
família está muito abalada",
disse a cunhada Aline Pereira.
Antes de ser aceito na legião,
Pereira foi técnico em informática e segurança particular em
Santo André. Sob a influência
de um irmão mais velho ex-fuzileiro naval, que já era legionário, estudou francês e se preparou para os exames físicos de
admissão durante um ano. Entrou na Legião em 2006.
O Ministério das Relações
Exteriores afirmou que um diplomata do Chade em contato
com a Embaixada do Brasil na
Nigéria está checando a atual
nacionalidade de Pereira. Isso
porque depois de cumprir um
período na Legião o militar ganha a nacionalidade francesa.
Texto Anterior: Europa: Enlutada, Itália sepulta vítimas do terremoto Próximo Texto: Saiba mais: França tem força no Chade desde 1986 Índice
|