São Paulo, sábado, 11 de abril de 2009

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Brasileiro que matou colegas no Chade cita legítima defesa

Família de Josafá Pereira, que servia na Legião Estrangeira, afirma que ele sofreu emboscada

Militar que já desertara matou três colegas e um civil; segundo parentes, ele será julgado na França e afirma estar arrependido


LUIS KAWAGUTI
DA REPORTAGEM LOCAL

O militar de origem brasileira Josafá de Moura Pereira, 26, da Legião Estrangeira -preso anteontem sob acusação de matar três militares e um civil no Chade- disse ontem por telefone a seus familiares que agiu em legítima defesa após cair em uma emboscada supostamente preparada por colegas de farda. Segundo sua irmã Vera Lúcia Paulino, 37, Pereira foi amarrado por dois colegas da Legião e teria sido morto se não tivesse reagido.
Pereira serve na Legião Estrangeira, tropa francesa que atualmente participa da Eufor (Força da União Europeia).
O contingente enviado pelo Conselho de Segurança da ONU há pouco mais de um ano visa garantir a segurança no Chade. O país tem milícias envolvidas no conflito de Darfur, no vizinho Sudão, e dali também recebe ondas de refugiados. A força visa ainda conter grupos rebeldes domésticos -insurgentes tentaram tomar a capital entre 2006 e 2008. Desde março, a Eufor está sendo substituída no país por tropas das Nações Unidas.
Na madrugada da última terça, Pereira atirou em um sargento e um soldado da Legião e em um militar togolês da ONU dentro de uma base militar na cidade de Abéché (leste do Chade). Na fuga, também matou um camponês do Chade.

Reação
"Ele contou que estava dormindo e acordou com as mãos e os pés amarrados. Dois colegas haviam armado uma emboscada", disse a irmã Vera. Segundo outro irmão, Jair Moura Pereira, Josafá já tivera desentendimentos com esses militares desde 2008, quando desertou de outra missão da Legião. Na ocasião, foi mandado à França e recebeu a missão no Chade como chance de reabilitação.
A família de Pereira acredita que os colegas dele pretendiam assassiná-lo com sua própria arma a fim de simular um suicídio. Porém, o militar teria conseguido se desamarrar e matado os agressores.
De acordo com o chefe de informações públicas da Minurcat (Missão das Nações Unidas na República Centro-Africana e no Chade), Michel Bonnardeaux, o capacete azul togolês que também foi morto por Pereira estava de serviço em uma torre de vigilância. A ONU é responsável pela segurança na base onde está a Legião.
Segundo Bonnardeaux, em seu depoimento às autoridades do Chade, Pereira disse que não se lembrava de ter matado o militar. Ele teria dito ainda à família que depois de sair da base comprou um cavalo e roupas civis de um camponês. Porém, segundo sua versão, depois de entregar a mercadoria, o camponês teria tentado atirar nele.
O militar fugiu pelo deserto mas foi preso tentando beber água em um poço. Atualmente ele está sob custódia da polícia, mas deve ser entregue à França onde pode ser julgado por um tribunal militar francês.
"Ele disse que está arrependido, mas não teve escolha. A família está muito abalada", disse a cunhada Aline Pereira.
Antes de ser aceito na legião, Pereira foi técnico em informática e segurança particular em Santo André. Sob a influência de um irmão mais velho ex-fuzileiro naval, que já era legionário, estudou francês e se preparou para os exames físicos de admissão durante um ano. Entrou na Legião em 2006.
O Ministério das Relações Exteriores afirmou que um diplomata do Chade em contato com a Embaixada do Brasil na Nigéria está checando a atual nacionalidade de Pereira. Isso porque depois de cumprir um período na Legião o militar ganha a nacionalidade francesa.


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