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Flip vai à Academia
Festa de Paraty homenageia pela primeira vez autor de não ficção, reduz presença de escritores, povoa mesas de acadêmicos e acende controvérsia sobre renovação
FABIO VICTOR
DE SÃO PAULO
Veterano da Festa Literária Internacional de Paraty
-esteve em todas as edições,
em três delas como convidado ou mediador-, o escritor
e agitador cultural Marcelino
Freire desta vez vai faltar.
"Parece uma festa que não
nos pertence mais", diz, referindo-se aos escritores.
"Sempre fui um entusiasta
da Flip, mas, com FHC abrindo e um monte de mesas sobre [o homenageado] Gilberto Freyre, está esquisito."
Na próxima quarta à noite,
o ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso fará a conferência de abertura da Flip,
que se estende até o domingo
seguinte e celebra o sociólogo pernambucano.
Freyre é o primeiro autor
de não ficção a ser homenageado em Paraty, o que se reflete na composição das mesas: dos 34 convidados para
esta oitava edição, só 16 se
dedicam à literatura, menos
da metade. Jamais a Flip reuniu tão poucos ficcionistas.
Do mundo acadêmico,
predominam historiadores
(seis), mas estarão lá também, sociólogos, críticos/ensaístas, um antropólogo etc.
PROVOCAÇÃO
No twitter, Marcelino Freire escreveu: "(...) Quem tem
saco para ouvir FHC falando
de Gilberto Freyre? A Festa
tucanou?". Ele diz que a
menção partidária foi só provocação e que não crê em
contaminação política da
festa. O problema, sustenta,
"é uma certa preguiça" na escolha dos convidados brasileiros. "Por que Glauco Matoso nunca foi à Flip? Roberto
Piva morreu sem ter ido à
Flip. Por que Nelson de Oliveira nunca foi, e FHC vai?
Preferia Paulo Coelho a
FHC", provoca.
A escritora Ivana Arruda
Leite endossa as críticas.
"Não vou [a Paraty] e me junto ao Marcelino, com exceção
[da crítica à escolha] do FHC,
que mora no meu coração.
Meu problema é com essa
abertura para todo mundo,
menos para escritores, muito
menos brasileiros."
Dos sete autores de ficção
nacionais convidados, seis já
tinham participado antes -a
exceção é Carola Saavedra.
Convidado em 2004, Cristóvão Tezza vê a Flip como
"um fenômeno transliterário". "Pensar que a literatura
é um nicho impermeável à
história, à sociologia, a aspectos filosóficos é uma ideia
miúda da literatura."
Tatiana Salem-Levy, convidada em 2009, concorda
parcialmente com o colega.
"Eu me interesso por Freyre e não acho [a programação] ruim, tenho um pé na
academia. Mas talvez faltem
novos escritores brasileiros,
não sei por que eles não levam outros. É uma questão."
Para o diretor de programação da Flip, Flavio Moura,
o espaço aberto para acadêmicos e ensaístas é natural.
"Propus-me a fazer uma homenagem consistente, a
mais densa possível, e é claro
que ao fazer isso tive menos
mesas para jogar. É uma opção de curadoria", diz.
Moura rejeita a queixa sobre a renovação de convidados nacionais. "Três dos
principais livros brasileiros
recentes estão ali, são de Reinaldo Moraes, ("Pornopopéia"), Ronaldo Correia de
Brito ("Galileia") e Beatriz
Bracher ("Antônio"). Não
vou deixar de chamar uma
pessoa interessante só porque ela já foi à Flip."
Tanto ele quanto a cocuradora da homenagem, Maria
Lucia Pallares-Burke, ressaltam o viés literário da obra de
Freyre, foco de uma mesa.
Pallares-Burke acrescenta
que se preocupou em não
chamar só especialistas, mas
intelectuais de outras áreas
que querem dialogar com as
ideias de Freyre.
Em sua primeira edição,
em 2003, a Flip convidou majoritariamente escritores
-eram 18 entre os 23 participantes. Ao longo dos anos,
abriu-se mais para convidados das variadas ciências humanas e de outras artes.
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