São Paulo, quarta-feira, 25 de agosto de 2010

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música

Gravações inéditas de Johnny Alf surgem em CD

Material foi registrado em shows nos últimos 15 anos de vida do cantor

Projeto dedicado a Alf inclui mais dois álbuns, reunindo artistas como Joyce, Toquinho, Zé Renato e Wanderléa


MARCUS PRETO
DE SÃO PAULO

Em seus últimos 15 anos, o cantor, compositor e pianista Johnny Alf (1929 -2010) viveu de dinheiro obtido em shows intimistas, feitos sobretudo em pequenos clubes de jazz e no circuito paulista do Sesc.
Para público quase sempre restrito, Johnny fazia o diabo. Recriava as próprias canções, desconstruía repertório alheio, mostrava material inédito, promovia jam sessions com convidados, de Cauby Peixoto a Ed Motta.
Ao menos 20 dessas apresentações foram gravadas em áudio, então sem maiores pretensões, pelo empresário do artista, Nelson Valencia.
O material está em fase de tratamento e, ainda neste ano, chega ao público dentro de uma caixa, a ser lançada pela gravadora Lua Music.
Sob os cuidados do produtor Thiago Marques Luiz (que dirigiu álbuns recentes de Wanderléa e do próprio Cauby), o projeto inclui mais dois discos. Um é dedicado aos sucessos de Johnny. Outro, às canções obscuras.
Estão recrutados para o álbum de hits -se é que a palavra "hit" cabe a compositor tão sofisticado- artistas que compartilham do mesmo universo artístico.
"Não tem nenhum gaiato no disco", diz Thiago. "Só convidamos gente que gostava dele, e de quem sabíamos que ele também gostava."
Estão na lista Joyce (cantando "Fim de Semana em Eldorado"), Toquinho ("Rapaz de Bem"), Leny Andrade ("O que É Amar"), Claudette Soares ("Gesto Final"), Emílio Santiago ("Nós"), Zé Renato ("Céu e Mar") e Wanderléa ("Ilusão à Toa").
O álbum com os temas desconhecidos de Johnny é projeto pessoal de Alaíde Costa -a intérprete predileta do compositor, segundo o próprio chegou a declarar.
Já totalmente gravado, o disco dela inclui canções como "Escuta", "Como Dois Corações e meu Sonho" e "Tema da Cidade Longe".
Também está programado para este ano o lançamento de uma biografia de Johnny Alf dentro da Série Aplauso, da Imprensa Oficial.
O livro foi escrito pelo jornalista e pesquisador João Carlos Rodrigues e se apoia em entrevistas com músicos, produtores e amigos do artista desde a adolescência, além de um depoimento de uma hora e meia colhido do próprio Johnny.
Para Rodrigues, o mais importante a ressaltar é que, apesar do final um tanto solitário, o artista não se encaixa no hall dos "injustiçados".
"Tudo o que ele fez foi porque quis. Até 60 e poucos anos, ele bebia muito, era agressivo, faltava aos compromissos. Foi quase um Tim Maia da bossa nova", compara Rodrigues. "Quando parou de beber, se tornou uma pessoa muito fechada".


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