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Crítica/"Armênia"
Guédiguian cria um telecurso de geografia
PAULO SANTOS LIMA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A imagem do Ararat,
monte de domínio dos
turcos, avistado e cultuado pelos armênios, é esclarecedora para "Armênia", de
Robert Guédiguian. O diretor
que antes comentava os grandes conflitos humanos, existenciais e sociais com a interioridade de seus personagens,
agora fala sobre a identidade de
um povo, suas raízes e cultura,
como numa palestra: didática,
expositiva e repetitiva.
Nos mais célebres longas do
cineasta, "A Cidade Está Tranqüila" (2000) e "Marie-Jo e
seus Dois Amores" (2002), o
mundo com suas complexidades era apresentado por meio
da experiência dos personagens, registrados em suas intimidades diárias, entre crises e
alegrias, penúrias financeiras e
riquezas afetivas, num caldo
bastante rico, bem complexo,
com suas instabilidades, suas
crises econômicas e humanas.
Em "Armênia", Guédiguian
pretende dar conta de algo menos universalista, menos humano e mais situado, que é a vida de sua pátria ascendente
(seu pai era francês, mas de origem armênia), palco este bastante tumultuado ao longo do
século 20 por conflitos e reestruturação econômica após o
domínio soviético. A opção
possível é fazer de cada acontecimento algo útil à trama e explicar como funciona esse país.
Anna (Ariane Ascaride) é
uma médica que viaja à Armênia para encontrar seu pai cardíaco, que fugiu de Marselha e
voltou à terra natal após saber
que somente uma cirurgia poderia livrá-lo da morte. Não será fácil encontrá-lo e, por isso,
ela recorrerá à ajuda de alguns
"guias turísticos": o taxista boa-praça Barsam, a bela e pobre
cabeleireira Schaké que sonha
em migrar para a Europa e,
principalmente, Yervanth (Gerard Meylan), amigo da família
que mostrará encantos locais.
A estrutura narrativa é a de
uma viagem turística, com Anna conhecendo as belezas do
país (as igrejas, sua história) e
seus problemas (o contrabando, a pobreza, a ruína institucional). Se antes os personagens de Guédiguian não eram
nem bons nem ruins, agora cada um representa um valor:
Schaké é pura, o galã Yervanth
é um militar pacifista etc. Tudo
preto no branco.
Nesse "tour", que mais parece um telecurso de geografia, o
que está em jogo é o reconhecimento da Armênia (pela protagonista e, parece, pelo espectador). Anna, estranhando o lugar no início, recebe uma aula
de apresentação do país, para,
assim, perceber seu valor histórico, descobrir suas origens,
sentir-se pertencente ao lugar,
ser uma "verdadeira armênia".
Guédiguian, sempre carinhoso com seus personagens, respeitando suas opções, erros e
acertos, deixa de fazer um cinema humano para fazer um cinema "humanista", uma auto-ajuda de como ser um cidadão
do mundo.
ARMÊNIA
Direção: Robert Guédiguian
Produção: França, 2006
Com: Ariane Ascaride, Gérard Meylan, Jean-Pierre Darroussin
Quando: hoje, às 21h30, no Cinemark Eldorado; amanhã, às 16h50,
no Unibanco Arteplex; e domingo,
às 15h, no Reserva Cultural
Avaliação: ruim
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