São Paulo, quinta-feira, 21 de abril de 2011

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CRÍTICA DRAMA

Montagem restringe diálogo com o público

Nehle Franke dirige "Devassa", texto do dramaturgo alemão Frank Wedekind, que antecipa ideias de Brecht

LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA

Um teatro sem lugar para dramas. "Devassa - Segundo A Caixa de Pandora (Lulu)", montagem de Nehle Franke a partir de sua adaptação da célebre peça do alemão Frank Wedekind (1864-1918), propõe uma dissecação desapaixonada da estrutura dramática do original.
O espetáculo aposta que uma plateia contemporânea teria dificuldades de enfrentar os cinco atos da primeira e mais crua das versões da peça e os comprime numa narrativa veloz e seca.
O procedimento de abertura do texto às pulsões dos atores, simultaneamente reverberando sua leitura da obra e atuando como personagens, que já vinha sendo experimentado em outras encenações da Cia dos Atores, desta vez radicaliza-se num distanciamento abissal.
A opção acompanha a perspectiva de Wedekind, que se iniciou no circo e no cabaré antes de se consagrar como dramaturgo, e antecipou as ideias de Brecht quanto a manter o espectador ciente de que assiste a uma representação.
Isso não implica, contudo, que os quatro atores e as duas atrizes não desempenhem com vigor máximo e ofereçam uma virtuosa demonstração de talento. Sem a sua disposição, a proposta da direção se inviabilizaria.
Por outro lado, se a saga da mulher-monstro, abusada na infância e tornada uma devoradora de homens, se perfaz, algo se perde.
Não os vetores da narrativa, os vários maridos e amantes fulminados. Estão todos lá pontuados, e suas sucessivas mortes apresentadas com economia e eficácia.
Talvez o que não se consume seja o impacto potencial da peça sobre os que a assistem. Mesmo supondo justa uma encenação que sabote a ficção e se desvende como artifício, não parece desprezível desejar que esse novo modo alcance provocar algum movimento no receptor.
É fato que as superposições e empastelamento de cenas no espaço aberto excita a imaginação e obriga a plateia a construir sua própria história.

SEM FACILIDADES
Não é essa demanda de um envolvimento cerebral que perturba verdadeiramente o comprometimento dos destinatários com a obra.
Na verdade, há um desleixo proposital, e afetado, em conceder facilidades, o que no limite gera uma recusa a qualquer diálogo produtivo com o que é exposto.
É como se a diretora, a despeito da entrega dos intérpretes, buscasse neutralizar qualquer traço de comunicação além do necessário. Se essa alternativa torna a montagem um experimento interessante, em diálogo com o teatro alemão contemporâneo, carece de meios para se impor para além disso.

DEVASSA

QUANDO sex. e sáb., às 21h, e dom., às 19h; até 1º/5
ONDE Sesc Consolação (r. Dr. Vila Nova, 245, tel. 0/xx/11/3234-3000)
QUANTO de R$ 32 a R$ 8
CLASSIFICAÇÃO 18 anos
AVALIAÇÃO bom


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