São Paulo, sexta-feira, 18 de junho de 2010

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O guardião dos livros

Pesquisador do iluminismo, Robert Darnton lança coletânea de artigos e virá para a próxima Flip

SYLVIA COLOMBO
EDITORA DA ILUSTRADA

O historiador norte-americano Robert Darnton, 71, é um especialista em história do século 18. Sobre o período, publicou alguns clássicos como "O Grande Massacre de Gatos" e "Boemia Literária e Revolução".
Por ter a Revolução Francesa e o iluminismo como temas centrais de seus estudos, é um entusiasta do poder do conhecimento e da ideia de que este deve ser amplamente compartilhado. São esses conceitos que norteiam seu trabalho cotidiano como diretor da biblioteca da universidade de Harvard e o inspiraram a escrever os textos de "A Questão dos Livros", lançado agora pela Companhia das Letras. O autor será um dos participantes da próxima Festa Literária Internacional de Paraty, entre 4 e 8 de agosto.
Em entrevista à Folha, Darnton explicou suas preocupações. "Sou otimista quanto à digitalização dos livros, mas não pode ser o Google quem define o modo como ela deve ser feita", diz.
"A internet promove a disseminação do conhecimento e disso sou um fã. Mas o Google não é um fã da disseminação do conhecimento. É, sim, um fã da ideia de ganhar dinheiro com isso."
Os artigos reunidos foram escritos dos anos 1980 até hoje, principalmente para o "New York Times Review of Books". Portanto, acompanham as diversas etapas das negociações entre bibliotecas e o Google.
Por conta disso, alguns se encontram defasados, mas Darnton resolveu deixá-los na coletânea como registro histórico sobre como se chegou a determinados acordos.
"O Google se acercou a nós, responsáveis pelas principais bibliotecas do mundo, e nos pediu acesso. Em troca, disseram que iam deixar que comprássemos os mesmos livros que cedemos a eles em formato de livro digital a um determinado preço. Por que eu deveria confiar no Google? É um monopólio."
Para Darnton, as bibliotecas do mundo todo deveriam se mobilizar para digitalizar seus acervos através de seus próprios meios.
"Também temos de discutir como serão preservados os acervos digitais que vêm sendo incorporados a elas. Essa questão está no ar."

JORNALISMO
Além de analisar o impacto do Google na disseminação do conhecimento, o livro também oferece um olhar para o modo como a informação é consumida hoje.
Num dos artigos, Darnton conta sua experiência no jornalismo como algo que o permitiu entender a essência dessa atividade.
"Eu era assistente de um pequeno jornal de Newark e meu papel era selecionar casos policiais para serem tratados no noticiário. Eu passava o tempo lendo informes de delegacias enquanto os jornalistas jogavam pôquer."
"Aos poucos aprendi que tipo de histórias chamavam a atenção deles. Geralmente, os crimes que envolviam tramas amorosas ou de traição.
E nunca, mas nunca mesmo, as que tratavam de negros." Darnton trabalhou também no "New York Times", entre 1964 e 1965, antes de seguir a vida acadêmica e tornar-se professor da Universidade de Princeton.

CONVIVÊNCIA DE MEIOS
Darnton diz acreditar na convivência de diferentes suportes. "O futuro certamente é digital, mas a internet não fará com que desapareça o papel impresso. Uma nova tecnologia nem sempre substitui uma antiga. Pelo menos não num curto prazo."
E cita como exemplos o fato de os manuscritos sobreviverem após a invenção da prensa móvel por Gutenberg ou de a televisão não ter eliminado o rádio. "O único ponto que me parece mais complicado é a questão dos jornais. Ver o fechamento de tantas publicações por todos os Estados Unidos é terrível. Não sei dizer como e por quanto tempo os jornais conseguirão sobreviver. Mas certamente é a área mais sensível do trânsito do conhecimento."
Se é um pessimista ao falar de jornais, acha que os livros vivem bom momento.
Apesar do surgimento do livro eletrônico e do crescimento do interesse por aparelhos de leitura como o Kindle ou o iPad, Darnton chama a atenção para o fato de que não caiu, e em alguns países até vem aumentando, o número de títulos publicados de livros físicos.


A QUESTÃO DOS LIVROS

AUTOR Robert Darnton
TRADUÇÃO Daniel Pelizzari
EDITORA Companhia das Letras
QUANTO R$ 42,50 (232 págs.)



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