|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
O guardião dos livros
Pesquisador do iluminismo, Robert Darnton lança coletânea
de artigos e virá para a próxima Flip
SYLVIA COLOMBO
EDITORA DA ILUSTRADA
O historiador norte-americano Robert Darnton, 71, é
um especialista em história
do século 18. Sobre o período, publicou alguns clássicos como "O Grande Massacre de Gatos" e "Boemia Literária e Revolução".
Por ter a Revolução Francesa e o iluminismo como temas centrais de seus estudos, é um entusiasta do poder do conhecimento e da
ideia de que este deve ser amplamente compartilhado.
São esses conceitos que
norteiam seu trabalho cotidiano como diretor da biblioteca da universidade de Harvard e o inspiraram a escrever os textos de "A Questão
dos Livros", lançado agora
pela Companhia das Letras.
O autor será um dos participantes da próxima Festa Literária Internacional de Paraty, entre 4 e 8 de agosto.
Em entrevista à Folha,
Darnton explicou suas preocupações. "Sou otimista
quanto à digitalização dos livros, mas não pode ser o
Google quem define o modo
como ela deve ser feita", diz.
"A internet promove a disseminação do conhecimento
e disso sou um fã. Mas o Google não é um fã da disseminação do conhecimento. É, sim,
um fã da ideia de ganhar dinheiro com isso."
Os artigos reunidos foram
escritos dos anos 1980 até hoje, principalmente para o
"New York Times Review of
Books". Portanto, acompanham as diversas etapas das
negociações entre bibliotecas e o Google.
Por conta disso, alguns se
encontram defasados, mas
Darnton resolveu deixá-los
na coletânea como registro
histórico sobre como se chegou a determinados acordos.
"O Google se acercou a
nós, responsáveis pelas principais bibliotecas do mundo,
e nos pediu acesso. Em troca,
disseram que iam deixar que
comprássemos os mesmos livros que cedemos a eles em
formato de livro digital a um
determinado preço. Por que
eu deveria confiar no Google? É um monopólio."
Para Darnton, as bibliotecas do mundo todo deveriam
se mobilizar para digitalizar
seus acervos através de seus
próprios meios.
"Também temos de discutir como serão preservados
os acervos digitais que vêm
sendo incorporados a elas.
Essa questão está no ar."
JORNALISMO
Além de analisar o impacto do Google na disseminação do conhecimento, o livro
também oferece um olhar para o modo como a informação é consumida hoje.
Num dos artigos, Darnton
conta sua experiência no jornalismo como algo que o permitiu entender a essência
dessa atividade.
"Eu era assistente de um
pequeno jornal de Newark e
meu papel era selecionar casos policiais para serem tratados no noticiário. Eu passava o tempo lendo informes de
delegacias enquanto os jornalistas jogavam pôquer."
"Aos poucos aprendi que
tipo de histórias chamavam a
atenção deles. Geralmente,
os crimes que envolviam tramas amorosas ou de traição.
E nunca, mas nunca mesmo,
as que tratavam de negros."
Darnton trabalhou também no "New York Times",
entre 1964 e 1965, antes de seguir a vida acadêmica e tornar-se professor da Universidade de Princeton.
CONVIVÊNCIA DE MEIOS
Darnton diz acreditar na
convivência de diferentes suportes. "O futuro certamente
é digital, mas a internet não
fará com que desapareça o
papel impresso. Uma nova
tecnologia nem sempre substitui uma antiga. Pelo menos
não num curto prazo."
E cita como exemplos o fato de os manuscritos sobreviverem após a invenção da
prensa móvel por Gutenberg
ou de a televisão não ter eliminado o rádio.
"O único ponto que me parece mais complicado é a
questão dos jornais. Ver o fechamento de tantas publicações por todos os Estados
Unidos é terrível. Não sei dizer como e por quanto tempo
os jornais conseguirão sobreviver. Mas certamente é a
área mais sensível do trânsito do conhecimento."
Se é um pessimista ao falar
de jornais, acha que os livros
vivem bom momento.
Apesar do surgimento do
livro eletrônico e do crescimento do interesse por aparelhos de leitura como o Kindle ou o iPad, Darnton chama a atenção para o fato de
que não caiu, e em alguns
países até vem aumentando,
o número de títulos publicados de livros físicos.
A QUESTÃO DOS LIVROS
AUTOR Robert Darnton
TRADUÇÃO Daniel Pelizzari
EDITORA Companhia das Letras
QUANTO R$ 42,50 (232 págs.)
Texto Anterior: Mônica Bergamo Próximo Texto: Frase Índice
|