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Crítica/DVD/"O Ovo da Serpente"
Ingmar Bergman faz leitura da antessala do pesadelo nazista
Berlim sombria criada pelo prestigiado cineasta sueco foi recebida com estranheza e patrulhamento na década de 70
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
"A
cordo de um pesadelo, e a vida real é
pior", diz o trapezista Abel Rosenberg. Ele vive
em Berlim, em novembro de
1923, período inicial da República de Weimar (1919-1933).
Enquanto a hiperinflação e o
desemprego corroíam a sociedade, Adolf Hitler aproveitava
o caldeirão para preparar um
golpe em Munique.
Acompanhamos Rosenberg
-que nasceu nos EUA e não fala alemão- durante pouco
mais de uma semana em "O
Ovo da Serpente" (1977), que o
sueco Ingmar Bergman (1918-2007) realizou com dinheiro do
italiano Dino De Laurentiis, cujas produções naquele período
incluíam a refilmagem de
"King Kong" (1976) e "Orca, a
Baleia Assassina" (1977).
Vista por alguns com estranheza, a parceria entre os dois
não esgotava a cota de preconceitos de que o filme foi alvo.
Naquela altura, Bergman já havia consolidado seu prestígio,
associado ao universo de "Gritos e Sussurros" (1972), "Cenas
de um Casamento" (1973) e
"Face a Face" (1976), para ficar
em exemplos então frescos na
memória do público.
Por que deveria ele meter o
dedo no mal-estar alemão do
entreguerras? Três décadas depois, pode-se não gostar de sua
leitura da antessala do pesadelo
nazista, mas já não cabe o patrulhamento, que desvia a atenção inclusive dos elementos essencialmente relacionados à
obra de Bergman.
Rosenberg (o norte-americano David Carradine, recém-saído do seriado "Kung-fu", o que
não ajudava muito) e a prostituta Manuela (Liv Ullmann)
circulam por um mundo em
que os personagens, às voltas
com a luta pela sobrevivência,
são atormentados pela culpa e
lamentam não terem ouvidas
suas preces. Ninguém parece se
importar com eles.
Resta o perdão de uns aos outros, em manifestação do "silêncio de Deus" que caracterizou a filmografia de Bergman,
estivesse a angústia ambientada na Idade Média, na Suécia
contemporânea ou na Alemanha dos anos 20. Aqui, o sentimento de solidão e abandono
encontra também reverberações políticas; a dor dessa orfandade social dará origem nos
anos 30 à "revolução", profetiza o vilão da história.
A Berlim sombria de Bergman é uma cidade de sonho, assim como a do alemão Rainer
Fassbinder em "Berlin Alexanderplatz" (1980), que também
observa, pela membrana do
ovo, a serpente nazista em gestação. O contraste entre as
duas, no entanto, lembra como
diferenças de concepção apontam para mundos distintos.
O OVO DA SERPENTE
Distribuidora: Versátil
Quanto: R$ 45, em média
Classificação: 18 anos
Avaliação: regular
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