São Paulo, domingo, 15 de março de 2009 |
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Para Clint, "Gran Torino" é obra sobre a tolerância
Em novo filme, diretor interpreta um xenófobo veterano de guerra em conflito com seus vizinhos asiáticos em Detroit
LEONARDO CRUZ EDITOR-ASSISTENTE DA ILUSTRADA Na noite do último dia 25, Clint Eastwood recebeu em Paris uma Palma de Ouro especial por toda sua obra no cinema. Foi apenas a segunda vez em sua história que o Festival de Cannes entregou tal prêmio -a primeira havia sido em 1997, para o sueco Ingmar Bergman. Nada mais justo. Com 78 anos de idade e 54 de carreira, Clint é um dos mais importantes cineastas americanos na ativa, de trajetória só comparável à de outros três gigantes: Francis Ford Coppola, Martin Scorsese e Woody Allen. Após despontar como ator nos anos 60 em filmes como "Por um Punhado de Dólares", de Sergio Leone, e "Meu Nome É Coogan", de Don Siegel, ele percorreu um caminho entre a atuação, fonte de prazer, dinheiro e fama, e a direção, sua maior satisfação profissional. Viveu personagens que se tornaram célebres, como o detetive justiceiro Harry, o sujo, em "Perseguidor Implacável" (1971) e mais quatro longas. E realizou trabalhos premiados e elogiados pela crítica, como "Os Imperdoáveis" (1992). No mesmo 25 de fevereiro, horas antes do tributo na França, o cineasta atendeu a Folha por telefone, na única entrevista ao Brasil para falar sobre "Gran Torino". No novo filme, Clint dirige e interpreta Walt Kowalski, metalúrgico aposentado, que mora em um bairro empobrecido da Detroit de indústria automotiva decadente. Gran Torino é o Ford 1972 que Kowalski guarda na garagem, memória do passado próspero. Veterano da Guerra da Coreia, ele mantém uma bandeira americana na entrada de casa e detesta seus vizinhos. São de uma comunidade hmong, etnia asiática que apoiou os EUA na Guerra do Vietnã, foi perseguida após o conflito e, em boa parte, fugiu para o Ocidente. A ação do filme nasce dessa convivência entre o americano racista e rancoroso e os asiáticos da porta ao lado, em especial o jovem Thao. Xenofobia, crise dos valores da família e da igreja e negação da vingança como justiça social emergem em "Gran Torino", ótima síntese das questões centrais da obra mais recente do diretor. O filme, que estreia na próxima sexta no país, é o tema deste primeiro trecho da entrevista. FOLHA - Muitos de seus filmes
mostram uma sociedade em declínio moral. Em "Gran Torino", há
também a decadência econômica.
Isso reflete o espírito dos EUA hoje? FOLHA - O contraste entre valores
ocidentais e orientais foi algo que o
atraiu no roteiro de Nick Schenk? FOLHA - Críticos nos EUA disseram
que Kowalski é uma espécie de
Harry, o sujo, na velhice. Mas Kowalski carrega um forte sentimento
de culpa pelo que fez na Coreia, e a
forma como resolve as coisas em
"Gran Torino" fazem dele o oposto
da figura do vingador. FOLHA - Kowalski é uma espécie de
resposta a Harry e àquela visão romântica do vingador dos anos 70? FOLHA - Dúvidas sobre a autoridade religiosa estão presentes em
"Gran Torino" e em outros filmes recentes seus, como "Menina de Ouro" e "A Troca". Por que esse é um
tema tão relevante? FOLHA - Você teve que fazer alguma grande mudança no roteiro? FOLHA - Alguma cena foi mais difícil de filmar em "Gran Torino"? FOLHA - Como você os preparou? FOLHA - Thao e Kowalski são, de
formas distintas, "outsiders" em
suas comunidades. Esse é um elemento de ligação entre os dois? |
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