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ARTIGO
James Cameron, o mala sem alça na versão em 3D
Humorista do "Casseta & Planeta" comenta, a convite da° Folha, a visita do diretor de "Avatar" ao Brasil e a campanha do cineasta contra a hidrelétrica de Belo Monte
HELIO DE LA PEÑA
ESPECIAL PARA FOLHA
Assistir a "Avatar" num cinema em 3D é experimentar uma
sensação diferente. Você penetra nos cenários, acompanha de
perto a movimentação dos personagens. É tão realista que o
próprio Cameron acreditou
que Pandora existia. E, o que é
pior, ficava na Amazônia.
No filme, vemos uma ONG
formada por pessoas bem intencionadas e idealistas se unir
aos nativos daquele planeta e
derrotar um exército americano mau feito pica-pau. Cameron faturou bilhões de dólares,
mas não ganhou o Oscar. Levou
muito menos estatuetas que a
ex-mulher. O que não deve ter
pensado a atual?
"E aí, Jimmy, como foi lá?"
"Mais ou menos. Trouxe três
troféus. Na verdade, quem se
deu bem foi a Kathryn [Bigelow], ganhou seis estatuetas:
melhor filme, direção, roteiro
e..." "Chega! Não quero ouvir
mais uma palavra sobre essa
mulher! Eu me sinto humilhada."
"Calma, Suzy! Já sei o que
fazer: salvar o planeta. Prepare
as malas, vamos para o Brasil!"
Cameron caiu de paraquedas
na floresta amazônica. Pintou-se de urucum, abraçou indígenas, dançou com bois em Parintins e se meteu num assunto espinhoso: a questão energética.
Ouviu ONGs e manifestou sua
oposição à construção da hidrelétrica de Belo Monte que, não
fosse o Google Maps, não teria a
menor ideia de que fica no Pará.
Aliás, nem saberia onde fica o
próprio Pará.
Mas ele vem de uma civilização mais avançada disposto a
nos ajudar. Portanto, devemos
seguir suas orientações e preservar o ambiente de "Pandora
Brasilis". Segundo Cameron,
deveríamos ouvir os povos da
floresta, mas até agora só ele falou. Fez propostas, pôs um bonezinho, participou de manifestações e ainda deu uns toques no Lula: "Vai na minha
que você vai se dar bem...".
Não sei por que, mas essa atitude conquistou minha antipatia e má vontade. Não tinha nenhuma opinião sobre a construção de Belo Monte. Agora,
só porque ele é contra, sou a favor. Ele me lembra aquele comercial das Havaianas, em que
um argentino resolve se meter
na conversa do Lázaro Ramos
para falar mal do Brasil. "E
quem disse que o Brasil tem
problemas?", rechaça Lázaro.
É
isso. Não gostamos quando alguém de fora palpita sobre o
que devemos fazer. Como diria
Romário: "O cara chegou agora
e quer sentar na janela?". Pega
leve, James Cameron!
Ouviu um discurso da Marina Silva e já entrou na campanha presidencial. Na verdade,
acho que gostaria de vê-la na
sua próxima superprodução.
Marina é verde, seus personagens são azuis, tudo a ver.
Mas tudo isso está ajudando
a chamar a atenção para o real
propósito da viagem, os lançamentos do DVD e do Blu-ray de
"Avatar" no Brasil. E esse filme
nós conhecemos. No final das
contas, tudo não passa de uma
obra do PAC: o Programa de
Aceleração do Cameron.
HELIO DE LA PEÑA é humorista do "Casseta & Planeta" (Globo)
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