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FÁBIO DE SOUZA ANDRADE
Goethe e Hackert: paisagem em tela
Livro trata da relação fecunda entre o pintor de paisagem alemão e seu aprendiz de desenho, o poeta do "Fausto"
A DISCUSSÃO sobre os méritos
relativos de Taunay e Debret
(qual dos dois o grande pintor?) e sobre o caráter da missão artística francesa (menos oficial do
que se acreditava) é um subproduto
interessante do rebuliço que os números redondos teimam em provocar. No caso dos 200 anos do desembarque da família real portuguesa
no Brasil, a efeméride é bem-vinda,
se, entre outras coisas, nos leva a repensar a contribuição individual de
ambos à forja da imagem para o
mundo da terra que acolheu a corte
lusitana no exílio.
Cláudia Valladão de Mattos, professora de artes plásticas na Unicamp (Universidade Estadual de
Campinas), organizou um pequeno
volume em torno da relação fecunda
entre um pintor de paisagem, o alemão Jakob Phillip Hackert (1737-1807), e seu aprendiz de desenho,
ninguém menos que o poeta do
"Fausto", Johan Wolfgang Von Goethe (1749-1832), que o descobriu,
já sob a influência do princípio da
imitação dos antigos colhido em
Winckelmann, durante uma de suas
famosas viagens à Itália, país em
que firmou a sua conversão ao
classicismo.
Nos dois ensaios que enfeixa
-"Também Eu na Arcádia: Goethe,
Hackert e a Pintura de Paisagem",
da organizadora, e "A Paisagem
Clássica como Alegoria do Poder do
Soberano: Hackert na Corte de Nápoles e as Origens da Pintura de Paisagem no Brasil", de Luciano Migliaccio-, o livro tanto apresenta a
defesa do modelo neoclássico do gênero contra a emergente força romântica, debate estético decisivo
para os rumos que o pensamento de
Goethe assumiu em seus anos de
maturidade, como levanta a interessante hipótese de que a visão por
trás das paisagens que Hackert realizou a serviço de Ferdinando 4º, soberano Bourbon do reino de Nápoles (mesclando elementos da presença humana, variedade de tipos e
pujança econômica, inclusive, à imponência da natureza, tudo mediado pela presença integrada de um rei
próximo do povo), se prestou ao papel de modelo para as encomendas
que dom João 6º fez a seus próprios
pintores de corte, no Brasil.
O elogio da multiplicidade sensível do real e a disposição para vislumbrar nos campos e colinas italianos a perenidade de cenários míticos da Arcádia grega entusiasmaram
Goethe a ponto de mobilizar seu
empenho pessoal na edição das reflexões teóricas e técnicas do professor, também traduzidas nesta edição brasileira.
No observador atento de uma natureza depurada do acidental,
apreendida nos traços característicos que o estudo sistemático das diferenças pode ensinar, o mestre de
Weimar admirou arte e ciência caminhando passo a passo, síntese que
homenageia no poema "Amor: Pintor de Paisagem", que, em tradução
de Haroldo de Campos, arremata à
altura o título feliz da coleção Artes&Ofícios.
GOETHE E HACKERT: SOBRE A PINTURA DE PAISAGEM
Organizadora: Cláudia Valladão de Mattos
Editora: Ateliê
Quanto: R$ 25 (152 págs.)
Avaliação: ótimo
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