São Paulo, sexta-feira, 10 de outubro de 2008

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Crítica/ "A Guerra dos Rocha"

Comédia familiar se perde com humor frágil e constrangedor

Com elenco da Rede Globo, filme de Jorge Fernando conta história de idosa que se torna um estorvo para os filhos

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

Parente é serpente, já lembrava a comédia de Mario Monicelli lançada em 1992 -ótimo exemplo da tradição de extrair humor de diferenças familiares, especialmente forte no cinema italiano. "A Guerra dos Rocha" se baseia em matéria-prima equivalente, a peça "Esperando la Carroza", do uruguaio Jacobo Langsner, que originou em 1985 filme do argentino Alejandro Doria.
A roteirista Maria Carmem Barbosa (com a colaboração de Carol Castro) e o diretor Jorge Fernando ambientaram no Rio de Janeiro atual a história de dona Dina (Ary Fontoura), viúva na faixa dos 80 anos que se transformou em estorvo para os três filhos -um músico (Lucio Mauro Filho), um advogado (Marcello Antony) e um senador (Diogo Vilela). Pressionados pelas mulheres (Taís Araújo, Giulia Gam e Ludmila Dayer, respectivamente), eles tentam se livrar do abacaxi de ter a mãe morando em casa -idéia que, de qualquer forma, também não os entusiasma.
Enquanto os casais se engalfinham, o destino providencia uma solução para o problema. Pode-se gostar ou não desse argumento, talvez considerá-lo um pouco gasto demais, mas ao menos ele proporcionava um esqueleto para erguer uma comédia de costumes com a qual o espectador pode se identificar rapidamente.
Talvez pelo apelo global do elenco, o tema sugestivo e o amplo lançamento, a produção consiga atrair o público desejado para "A Guerra dos Rocha". Registre-se que o cinema nacional continua em busca de um sucesso de bilheteria desde o êxito de "Meu Nome Não É Johnny", no início deste ano.
Há um incontornável constrangimento, no entanto, diante do modo apressado com que o filme parece ter vindo a público. Diálogos canhestros ajudam a sublinhar a fragilidade de alguns atores no terreno do humor, em conjunto histérico que sugere mirar em um espectador com baixíssimo nível de exigência -um homem travestido aqui, uma piada grosseira ali, e estamos conversados.
Ary Fontoura e Nicette Bruno (como uma amiga de dona Dina) fazem o possível para não sucumbir à mediocridade. Para evitar o naufrágio, precisariam fazer também o impossível.


A GUERRA DOS ROCHA Produção: Brasil, 2008
Direção: Jorge Fernando
Com: Ary Fontoura, Marcello Antony, Taís Araújo, Nicete Bruno
Onde: em cartaz no cine Cidade Jardim/Sala Premier 2 e circuito
Classificação indicativa: não recomendado para menores de 12 anos
Avaliação: ruim



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