São Paulo, sexta, 7 de fevereiro de 1997.

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PAULO FRANCIS
Segundo Jesus Cheda, jornalista estava preocupado com ação movida por diretores da Petrobrás
Tensão nervosa causou infarto, diz médico

WILSON TOSTA
da Sucursal do Rio

O infarto que matou Paulo Francis na última terça-feira foi causado pela tensão nervosa em que o jornalista vivia há algumas semanas por causa do processo que lhe moviam, na Justiça norte-americana, diretores da Petrobrás, disse ontem à Folha o médico Jesus Cheda, 66, que tratava de Francis há 15 anos.
Segundo o clínico-geral, ele teve que receitar a Paulo Francis o calmante Ativan 2 mg, para que o jornalista pudesse voltar a dormir. Ele perdera o sono e vivia tenso desde o ano passado, quando começara a ação judicial indenizatória.
No processo, exigiam-lhe uma indenização de US$ 100 milhões por ter afirmado, no programa ``Manhattan Connection'' -feito em Nova York e exibido no Brasil no canal de TV a cabo GNT-, que os diretores da empresa tinham contas na Suíça.
A diretoria da Petrobrás foi procurada ontem pela Folha, mas avisou que não se pronunciaria sobre nada relacionado à morte do jornalista.
Saudável
``Francis estava perfeitamente saudável'', disse Cheda, explicando que o jornalista fazia checagens de saúde completas a cada seis meses.
``Fez o último exame em dezembro e estava com tudo normal: triglicerídeos, colesterol, HDL, açúcar, pressão arterial.''
Amigo de Francis desde 1964, o médico Jesus Cheda disse que, a seu pedido, o jornalista parara de fumar há 15 anos e, há dez, fazia caminhadas.
Paulo Francis também seguia uma dieta com baixa taxa de colesterol, sem carne vermelha e rica em vegetais e carne branca sem pele.
O comportamento não se encaixa no perfil de quem sofre problemas cardíacos -geralmente pessoas que fumam, são sedentárias e cuja dieta é rica em gorduras e carne vermelha.
``Imagine você ser processado em US$ 100 milhões? É chato, não? Isso estava tomando tempo dele, do trabalho dele'', afirmou Cheda, cujo consultório fica a duas quadras do escritório da Rede Globo em Nova York, o que facilitava os contatos quase diários entre os dois amigos.
Diagnóstico
O clínico-geral rebateu as acusações de que pode ter se enganado ao diagnosticar como bursite (um tipo de inflamação) uma dor no ombro e braço esquerdos do jornalista.
Um dos sinais do infarto do miocárdio pode ser uma dor forte no braço esquerdo.
Jesus Cheda explicou que Paulo Francis sentia a dor da bursite quando movimentava o braço, e durante cerca de dez dias antes de morrer.
A dor do infarto, de acordo com o médico, não depende de movimentos e não dura tanto tempo antes da precipitação do ataque cardíaco.
Infiltração
Em 31 de janeiro, Jesus Cheda realizou, no ombro de Francis, uma infiltração (injeção) de medicamentos. Imediatamente, segundo ele, o jornalista teria conseguido mover o braço, sem sentir dores.
No domingo, em telefonema a um amigo comum, Francis disse que melhorara.
``Esse amigo também o achou mais calmo'', afirmou Jesus Cheda.
``A última coisa que Francis falou comigo foi sobre um livro que escreveram aqui no Brasil para atacá-lo'', disse o clínico-geral. ``Ele falou: imagine, devo ser uma pessoa importante e famosa'', completou.
Enterro
O enterro do corpo do jornalista Paulo Francis está marcado para as 17h de hoje no cemitério de São João Batista, em Botafogo (zona sul do Rio).
O corpo chega de manhã à cidade no vôo 861 da Varig, proveniente de Nova York, onde o jornalista vivia desde 1971, e será velado por parentes e amigos na capela 2 do cemitério.
Paulo Francis morreu às 6h30 da última terça-feira, de ataque cardíaco, em seu apartamento na cidade norte-americana.

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