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PAULO FRANCIS
Segundo Jesus Cheda, jornalista estava preocupado com ação movida por diretores da Petrobrás
Tensão nervosa causou infarto, diz médico
WILSON TOSTA
da Sucursal do Rio
O infarto que matou Paulo Francis na última terça-feira foi causado pela tensão nervosa em que o
jornalista vivia há algumas semanas por causa do processo que lhe
moviam, na Justiça norte-americana, diretores da Petrobrás, disse
ontem à Folha o médico Jesus
Cheda, 66, que tratava de Francis
há 15 anos.
Segundo o clínico-geral, ele teve
que receitar a Paulo Francis o calmante Ativan 2 mg, para que o jornalista pudesse voltar a dormir.
Ele perdera o sono e vivia tenso
desde o ano passado, quando começara a ação judicial indenizatória.
No processo, exigiam-lhe uma
indenização de US$ 100 milhões
por ter afirmado, no programa
``Manhattan Connection'' -feito
em Nova York e exibido no Brasil
no canal de TV a cabo GNT-, que
os diretores da empresa tinham
contas na Suíça.
A diretoria da Petrobrás foi procurada ontem pela Folha, mas avisou que não se pronunciaria sobre
nada relacionado à morte do jornalista.
Saudável
``Francis estava perfeitamente
saudável'', disse Cheda, explicando que o jornalista fazia checagens
de saúde completas a cada seis meses.
``Fez o último exame em dezembro e estava com tudo normal: triglicerídeos, colesterol, HDL, açúcar, pressão arterial.''
Amigo de Francis desde 1964, o
médico Jesus Cheda disse que, a
seu pedido, o jornalista parara de
fumar há 15 anos e, há dez, fazia
caminhadas.
Paulo Francis também seguia
uma dieta com baixa taxa de colesterol, sem carne vermelha e rica
em vegetais e carne branca sem pele.
O comportamento não se encaixa no perfil de quem sofre problemas cardíacos -geralmente pessoas que fumam, são sedentárias e
cuja dieta é rica em gorduras e carne vermelha.
``Imagine você ser processado
em US$ 100 milhões? É chato, não?
Isso estava tomando tempo dele,
do trabalho dele'', afirmou Cheda,
cujo consultório fica a duas quadras do escritório da Rede Globo
em Nova York, o que facilitava os
contatos quase diários entre os
dois amigos.
Diagnóstico
O clínico-geral rebateu as acusações de que pode ter se enganado
ao diagnosticar como bursite (um
tipo de inflamação) uma dor no
ombro e braço esquerdos do jornalista.
Um dos sinais do infarto do miocárdio pode ser uma dor forte no
braço esquerdo.
Jesus Cheda explicou que Paulo
Francis sentia a dor da bursite
quando movimentava o braço, e
durante cerca de dez dias antes de
morrer.
A dor do infarto, de acordo com
o médico, não depende de movimentos e não dura tanto tempo
antes da precipitação do ataque
cardíaco.
Infiltração
Em 31 de janeiro, Jesus Cheda
realizou, no ombro de Francis,
uma infiltração (injeção) de medicamentos. Imediatamente, segundo ele, o jornalista teria conseguido mover o braço, sem sentir dores.
No domingo, em telefonema a
um amigo comum, Francis disse
que melhorara.
``Esse amigo também o achou
mais calmo'', afirmou Jesus Cheda.
``A última coisa que Francis falou comigo foi sobre um livro que
escreveram aqui no Brasil para
atacá-lo'', disse o clínico-geral.
``Ele falou: imagine, devo ser uma
pessoa importante e famosa'',
completou.
Enterro
O enterro do corpo do jornalista
Paulo Francis está marcado para
as 17h de hoje no cemitério de São
João Batista, em Botafogo (zona
sul do Rio).
O corpo chega de manhã à cidade no vôo 861 da Varig, proveniente de Nova York, onde o jornalista
vivia desde 1971, e será velado por
parentes e amigos na capela 2 do
cemitério.
Paulo Francis morreu às 6h30 da
última terça-feira, de ataque cardíaco, em seu apartamento na cidade norte-americana.
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