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Caro, maiô já pesa no bolso de pais de nadadores teens
Jaked, nova sensação das piscinas e que custa por volta de R$ 1.300, vira sonho de consumo entre atletas adolescentes
Técnicos acham que trajes caros podem elitizar mais o esporte e se preocupam com desigualdade de condições de disputa entre jovens
MARIANA BASTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O maiô Jaked, nova coqueluche da natação, tornou-se um
peso para o bolso de pais de nadadores de categorias de base.
O sucesso que o traje faz entre os adolescentes fica evidente no Torneio Sudeste Infanto-Juvenil de natação, que reúne
atletas entre 12 e 16 anos. A
competição, realizada na sede
do Corinthians, vai até hoje.
A barraquinha de Zezé Saturno, revendedora da marca italiana em torneios no Brasil, era
a mais badalada. Segundo ela,
que só vende os trajes sob encomenda, 27 Jakeds foram entregues para a competição. Outros
50 foram encomendados. Nem
o preço salgado, US$ 585, foi capaz de afastar a clientela.
"As crianças ficaram malucas
[com o Jaked]. O técnico colocou pilha [para comprar]. Então, acabei comprando um para
minha filha", afirmou Fátima
Amorim da Cunha, professora
de educação física e mãe de Raphaela, 15, nadadora da categoria juvenil do Fluminense.
"Foi difícil [comprar]. O preço é um absurdo, mas vale a pena o sacrifício para ela ficar feliz e não se sentir diminuída em
relação a outras nadadoras. Só
não quero que inventem outro
maiô melhor que esse", disse a
mãe, aos risos, temendo gastar
mais com outra "invenção".
O sacrifício no bolso rendeu à
filha o recorde do torneio nos
100 m peito. Com o Jaked pela
primeira vez, Raphaela, que tinha o terceiro melhor tempo
entre as competidoras, botou
mais que um corpo de vantagem em relação à segunda colocada e cravou 1min14s41.
"Acho que venci porque mudei meu estilo, mas o Jaked foi
essencial para o recorde", afirmou Raphaela, que baixou sua
melhor marca em 1s50.
Com maiôs menos badalados, as rivais de Raphaela reclamaram da falta de igualdade de
condições na disputa.
"Acho que não deveria ser
permitido [para nossa idade]
usar [o traje "high-tech"] ou deveria ser mais barato", disse Iara Dall'orto, 16, do Corinthians.
Com maiô da marca Diana, a
nadadora, cujo tempo de balizamento era o melhor entre as
competidoras dos 100 m peito
juvenil, chegou em segundo,
7s32 depois de Raphaela.
"Nos 200 m medley, acho
que só ganhei porque o Jaked
da menina [a adversária] furou", relatou a nadadora, que
brincava com fato de sua colega, Bruna Rocha, estar usando
o "ultrapassado" fast skin 2.
"O fast 2 era o melhor. Todo
mundo queria ter. Agora, ninguém quer mais", completou.
Entre os cinco técnicos do
torneio consultados pela Folha, quatro se mostraram preocupados com a disseminação
dos trajes tecnológicos entre os
nadadores em formação.
"Acho que ocorre uma desigualdade. Quem pode comprar
[o maiô] acaba levando uma
vantagem sobre quem não pode", comentou Fabio Massaini,
treinador da Unisanta.
Coaracy Nunes, presidente
da confederação brasileira, minimizou o efeito dos trajes.
"Não acredito que maiô nenhum possa superar um nadador que tenha talento. Mas é
um assunto a ser discutido.
Não sei se posso interferir."
As federações da Austrália e
EUA impuseram limites de
idade para o uso dos trajes.
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