São Paulo, terça-feira, 01 de julho de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Pistorius põe sua fama à prova

Atleta amputado terá, amanhã, a primeira das três chances de conseguir índice olímpico nos 400 m

Incluído na lista de pessoas mais influentes deste ano, sul-africano diz que sua luta também serve para a causa dos paratletas do mundo

MARIANA BASTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Oscar Pistorius, 21, está de volta. Um mês e meio após ter obtido, nos tribunais, o direito de competir entre atletas sem deficiência, o velocista biamputado entrará amanhã na pista, pela primeira vez, em busca do índice olímpico nos 400 m.
A tarefa não será fácil. Seu melhor tempo é de 46s33. Para ir a Pequim, o sul-africano terá que cruzar a linha em pelo menos 45s55. Para isso, atuará em três eventos: o Meeting de Milão, amanhã, a Liga de Ouro de Roma, na semana que vem, e o Meeting de Lucerna, no dia 16.
"Não será o fim do mundo se não for à Olimpíada neste ano", pondera Pistorius, já garantido na Paraolimpíada-08, em entrevista à Folha por e-mail.
Mesmo que não ganhe vaga olímpica, o sul-africano já é um dos atletas mais badalados.
Biamputado antes de completar um ano, ele se tornou pivô de um dilema ético. Afinal, suas próteses de fibra de carbono, conhecidas como Cheetah Flex-Foot, dariam a ele uma vantagem competitiva diante de atletas sem deficiência?
A luta pela causa o pôs entre as pessoas mais influentes do mundo, segundo lista da revista "Time", dos EUA, que o classificou como pioneiro e herói.
"O que começou com a minha própria jornada, para ter permissão de ir à Olimpíada, transformou-se numa luta maior de reconhecimento dos paraatletas", disse o atleta.

 

FOLHA - Como está a preparação para melhorar o seu tempo?
OSCAR PISTORIUS -
Está indo bem. Tenho um grande alívio de poder me focar só em treinar e correr, depois de ter perdido tanto tempo nos tribunais. Sei que será duro alcançar o índice, mas agora tenho que dar o meu melhor. E é isso que vou fazer.

FOLHA - A visibilidade conseguida por causa de suas próteses pode interferir no seu desempenho?
PISTORIUS -
Sim, há muita pressão, mas tenho só 21 anos, então, quando Londres-2012 chegar, eu terei 25. Não será o fim do mundo se não for a Pequim. Toda a atenção e pressão me motivam a fazer o melhor.

FOLHA - Se você fizer o índice olímpico, abdicará da Paraolimpíada?
PISTORIUS -
Sempre competirei na Paraolimpíada. Se tudo for bem e tiver sorte, espero levar o ouro nos 100 m, nos 200 m e nos 400 m. O espírito amistoso que você encontra nesse evento é incrível. É importante destacar que, tanto para correr em nível olímpico como paraolímpico, tem que ser atleta de elite.

FOLHA - Como você espera ser recepcionado pelos seus adversários?
PISTORIUS -
Nunca recebi sentimentos negativos vindos de outros atletas. Todos têm me apoiado. Alguns, como Sanya Richards [campeã olímpica no 4 x 400 m] e Tyson Gay [campeão mundial dos 100 m e nos 200 m], demonstraram publicamente apoio à minha causa.

FOLHA - Qual foi a sua reação ao saber que Natalie du Toit [nadadora sul-africana amputada] ganhara vaga olímpica na maratona aquática?
PISTORIUS -
Conheço Natalie, e é ótimo que ela vá para a Olimpíada. Sei o quanto ela trabalhou duro. Não é uma coincidência que dois paraatletas sul-africanos tenham se destacado. A África do Sul permite que nós tenhamos facilidades, mas a estrutura ainda pode melhorar.

FOLHA - Foi uma surpresa estar na lista de pessoas mais influentes do mundo, ao lado do dalai-lama, de Angelina Jolie e de George W. Bush?
PISTORIUS -
Foi uma imensa honra ser reconhecido sob esse holofote. O que começou com a minha própria jornada para ir à Olimpíada transformou-se numa luta maior. Fico satisfeito em poder contribuir com a causa dos paraatletas no mundo.


Texto Anterior: Vôlei: Rodrigão e Giba devem voltar ao time na Liga
Próximo Texto: Sem veto: Federação diz não querer gastar "tempo e dinheiro" com caso
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.