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Oito décadas depois, astrônomos reabilitam "erro" de Einstein
Claudio Angelo
Editor de Ciência
Em 1917, Einstein reformulou a
a teoria da relatividade geral para
incluir um detalhe do qual ele se
arrependeria -mas que os astrofísicos hoje consideram a chave
para explicar o futuro do Universo. O elemento tinha nome, a
"constante cosmológica", e codinome, a letra grega "lambda".
O físico suíço-alemão acreditava na beleza dos fenômenos naturais e de suas teorias para descrevê-los. Foi com desgosto, portanto, que ele percebeu que as equações da relatividade geral, sua teoria da gravitação, pareciam produzir um Universo que ou se expandia ou se contraía.
Einstein consultou seu astrônomo favorito, o holandês Wilhelm
De Sitter, sobre a esquisitice. De
Sitter foi categórico: as estrelas
não se aproximam nem se afastam significativamente umas das
outras. Portanto, o Universo deve
ser estático. Einstein não se fez de
rogado e cometeu seu maior erro:
duvidar de Albert Einstein. Alterou as equações para incluir o famigerado "lambda" e deixar o
Universo estático, já se desculpando: "Nós admitimos ter precisado introduzir uma extensão nas
equações de campo da gravitação
que não é justificada pelo atual estado do conhecimento".
Acontece que os telescópios da
época não permitiam ver nada
além da Via Láctea -portanto,
para De Sitter, o "Universo" era a
nossa galáxia. A falha foi descoberta em 1929, quando o astrônomo americano Edwin Hubble,
usando telescópio mais moderno,
viu não só que o Universo era
composto de várias galáxias como
essas galáxias estavam se afastando umas das outras. Ou seja, o
cosmo está em expansão.
"Então, fora constante cosmológica", foi a resposta de um Albert Einstein envergonhado. Depois, ele chamaria "lambda" de
"meu maior erro".
O assunto foi mais ou menos esquecido até 1998, quando duas
equipes independentes de astrônomos descobriram que o Universo está não só se expandindo,
como acelerando cada vez mais,
há pelo menos 5 bilhões de anos.
A pista para essa expansão acelerada era a luz de estrelas moribundas (supernovas) que explodiam a bilhões de anos-luz da Terra; a luz dessas estrelas é esticada
pela aceleração na direção do vermelho, do mesmo jeito que ondas
de som são esticadas quando um
carro se afasta numa estrada.
Até então, os astrônomos acreditavam que a expansão cósmica
estivesse gradualmente freando
devido à atração entre as galáxias
e à chamada "matéria escura",
que responde pela maior parte da
força gravitacional. A descoberta
da aceleração implicava que alguma força misteriosa, contrária à
da gravidade, estivesse empurrando as galáxias para longe umas
das outras. A tal força ganhou o
nome sugestivo de "energia escura". Hoje, os físicos acham que ela
seja uma propriedade maluca do
vácuo. Mais do que isso: eles
acham que ela seja uma constante
-a mesma constante cosmológica que Einstein desprezou.
Hoje, o grupo de Adam Riess,
do Instituto de Ciência do Telescópio Espacial, nos EUA, usa o telescópio Hubble para para observar explosões de supernova e determinar o valor de "lambda"
-portanto, o futuro do Universo.
Caso a energia escura tenha o valor previsto por Einstein, o cosmo
irá se expandir gradualmente.
Se ela for muito grande, a expansão irá se acelerar tanto no futuro a ponto de literalmente rasgar o cosmo, no que os astrônomos chamam de "Big Rip" (ou
grande rasgo). Caso "lambda" tenha um valor mais baixo, a gravidade pode um dia vencer a energia escura, fazendo o Universo se
contrair, num "Big Crunch"
(grande desmoronamento). Einstein parece estar ganhando. Mas,
enquanto o valor não for determinado por observações, Riess prefere não fazer apostas. "Sou um físico experimental. Prefiro ver o
que dizem os dados."
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