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Desafios
A primeira comprovação convincente da
relatividade geral veio com a observação de
um eclipse solar, feita no Brasil e na África,
em 1919; desde então, nenhum experimento
ou observação foi capaz de refutar a teoria
As maiores evidências da teoria que desbanca Newton e o senso comum
Salvador Nogueira
Da reportagem local
Uma teoria que desafia o senso
comum de todas as maneiras
possíveis exige, claro, comprovações. Einstein só se deu por
contente com a relatividade geral quando ela ofereceu uma explicação para algo que a gravitação de Isaac Newton não conseguia esclarecer. De fato, construir uma teoria que se conforme aos fatos já estabelecidos e
inexplicados é bem mais fácil
do que sair por aí prevendo novos fenômenos. Mas o gênio
alemão fez as duas coisas.
A idéia de que uma teoria completa da relatividade teria de incluir a gravitação já estava em sua
mente desde o princípio. Ela teria
de explicar tudo o que Newton já
explicava e ir além. Por isso, Einstein brincou com a matemática
até que a teoria explicasse um fenômeno gravitacional estranho,
que a física newtoniana não conseguia esclarecer -a precessão
do periélio do planeta Mercúrio,
ou seja, o ritmo com que o ponto
em que ele faz sua aproximação
máxima do Sol em sua órbita
avança após múltiplas órbitas.
Houve até quem cogitasse a
existência de um planeta desconhecido, que influísse gravitacionalmente na órbita de Mercúrio.
Mas, em 1915, Einstein tinha uma
versão da relatividade que explicava isso, dispensando o planeta-fantasma. Para o físico alemão,
era prova suficiente de que sua
teoria estava correta. Claro, como
a missão era derrubar um gigante
como Isaac Newton, seus colegas
pediram mais. Queriam algo que
fosse previsto pela relatividade,
mas não tivesse sido observado
antes -impedindo Einstein de
"adaptar" a matemática da teoria
com base na observação.
A oportunidade viria com um
eclipse solar. Segundo Newton,
raios de luz, que não têm massa,
não teriam sua trajetória afetada
pela gravidade. Para Einstein, um
raio de luz passando de raspão
por um corpo maciço seria levemente desviado no meio do caminho. Ao observar um eclipse solar, quando a Lua se interpõe entre o Sol e a Terra e o céu fica escuro, os cientistas poderiam ver as
estrelas. Comparando a imagem à
de uma noite estrelada, poderiam
verificar se, ao passar de raspão
pelo Sol, a luz das estrelas ao fundo teria sido desviada por ele, no
ângulo previsto pela teoria.
Em 29 de maio de 1919, surgiu a
oportunidade ideal. Duas equipes
chefiadas pelo respeitado astrônomo britânico Arthur Eddington -desde aquela época um entusiasta da relatividade- foram à
ilha de Príncipe, na África, e a Sobral, no Ceará, para fazer chapas
fotográficas durante o eclipse.
Os resultados, apresentados pelo próprio Eddington, confirmaram a teoria de Einstein e elevaram o físico alemão, da noite para
o dia, ao status de gênio e mito
-o homem que derrubou Newton de seu pedestal intocável,
após mais de três séculos.
Ao visitar o Brasil, em 1925,
Einstein reconheceu o papel do
país na confirmação de sua principal teoria. "O problema que minha mente formulou foi respondido pelo luminoso céu do Brasil", disse a um jornalista.
Os detratores da relatividade
apontam até hoje, com uma certa
razão, que Eddington "escolheu",
de forma parcial, atribuindo-lhes
"melhor qualidade", apenas os
dados que confirmavam a teoria
de Einstein. Mas hoje, depois de
inúmeras comprovações, já não
há mais dúvida de que o físico alemão estava mesmo correto.
Experimentos com relógios atômicos de altíssima precisão a bordo de aviões, por exemplo, já demonstraram que o tempo passa
mais devagar mais perto do centro da Terra. Graças à teoria de
Einstein, hoje podemos desenvolver sistemas de GPS (Satélites de
Posicionamento Global), cujos
relógios em órbita se mantenham
em sincronia com os em terra.
O fenômeno do desvio dos raios
de luz, usado no eclipse, também
foi confirmado com exatidão em
outros fenômenos mais bizarros
-as lentes gravitacionais. É como se um corpo muito maciço
agisse como uma lente sobre a luz
que vem de um outro objeto, ainda mais distante, atrás dele, amplificando-o. Esse fenômeno ajuda no estudo de galáxias muito
distantes e até mesmo na detecção
de planetas fora do Sistema Solar.
A teoria da relatividade geral
também previu objetos bizarros,
como os buracos negros -astros
tão densos que nem a luz consegue escapar de sua atração gravitacional. Os cientistas até hoje estão atrás de imagens da borda de
um buraco negro. Ninguém conseguiu, mas há razão de sobra para dizer que a teoria acertou, mais
uma vez. Astrônomos já observaram, por exemplo, estrelas girando rapidamente em torno de pontos aparentemente vazios, denunciando a presença desses vorazes
engolidores de matéria e energia.
Finalmente, Einstein também
previu a existência de ondas gravitacionais -marolas no tecido
do espaço e do tempo causadas
pelo movimento acelerado de
corpos maciços. Ninguém nunca
as viu diretamente, mas os físicos
têm esperança de, no futuro, detectar até mesmo o eco gravitacional do Big Bang, explosão que teria dado origem ao cosmo. Como
se vê, a boa e velha relatividade
ainda dá muito pano para manga.
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