São Paulo, domingo, 05 de junho de 2005

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Brilho do patriarca ofuscou mulher e filho mais velho

Colaboração para a Folha

O brilho de Einstein levou a resultados paradoxais. Enquanto iluminou aqueles que às vezes, por mero oportunismo, se aproximavam dele, criou uma penumbra sobre sua mulher e seus filhos.
Sobre sua primeira mulher, Mileva Maric (lê-se "Márity"), talvez tenha recaído o peso maior da "sina" de ser uma Einstein. Ela nasceu em 1875 em Titel, no então Império Austro-Húngaro. Além da língua sérvia, dominava o alemão, o francês, o húngaro e o inglês. Estudou piano e teoria musical. Na escola, era excelente aluna. Suas habilidades em matemática e física eram excepcionais.
Em 1894, foi para um seleto colégio de meninas em Zurique. Dois anos depois, passou brevemente por medicina, antes de optar pelo curso de formação de professores de física e matemática da Escola Politécnica de Zurique, onde conheceu Einstein. Era a única mulher de uma turma de cinco. Algumas de suas notas foram melhores que as de Einstein.
Nos exames finais, Mileva, paradoxalmente, repetiu em matemática. Um ano depois, tentou de novo, mas falhou. Mas, agora, havia uma boa explicação: estava grávida de Lieserl, filha que nasceu em 27 de janeiro de 1902, antes do casamento formal (1903), e cujo destino se desconhece (supõe-se que a menina tenha sido colocada para adoção).
Mileva e Einstein certamente discutiam física. Porém, o fato de Mileva não ter sido a "autora injustiçada" da relatividade -como foi defendido mais de uma vez- não tira em nada seu mérito. O físico e historiador da ciência Dord Krstic afirma que ela foi uma das primeiras mulheres do Império Austro-Húngaro a conseguir autorização para assistir a aulas de física numa classe só de meninos. Vai além: defende que, assim como Marie Curie (1867-1934), Mileva foi uma das primeiras mulheres físicas da história.
Nascido em 1904, Hans Albert formou-se em 1927 em engenharia civil pela Escola Politécnica de Zurique e obteve seu doutorado em hidráulica em 1936 (desde criança, água era sua grande paixão). Diferentemente da mãe, Hans Albert recebeu o devido reconhecimento pelo alcance de sua obra. É considerado um dos maiores especialistas do século passado em transportes de sedimentos em rios e canais.
Morreu do coração aos 69 anos. Em seu túmulo, lê-se: "Uma vida dedicada a seus estudantes, à pesquisa, à natureza e à música". Excluída a palavra "estudantes", poderia ser a lápide de seu pai.
Eduard, filho mais novo, foi um aluno excepcional. Aprendeu a ler aos três anos e aos nove devorava livros em quantidades assustadoras. Tinha memória fotográfica, o que o permitia repetir praticamente tudo o que lia. Essa atividade mental alucinada fez com Einstein tentasse frear esse ímpeto.
Ganhou conhecimento profundo sobre autores como Kafka, Shakespeare, Goethe, Schiller e especialmente Rilke. E, em 1931, alguns de seus escritos foram publicados. Nascido em 1910, reclamou de dores de cabeça e zumbido nos ouvidos desde cedo.
No final da adolescência, seu distúrbio mental se tornou sério. Entrou para a faculdade de medicina, mas a abandonou no terceiro semestre (ia às aulas acompanhado de um enfermeiro). Passou parte da vida internado. Morreu num hospital psiquiátrico, em 1965, na Suíça. O pai o visitou pela última vez em 1933. Escreveu-lhe a última carta em 1944. (CÁSSIO LEITE VIEIRA)


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