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O ativista
Einstein também foi um grande ator na
política do século 20; ao mesmo tempo em
que alertou os EUA para o potencial das
armas nucleares, foi perseguido pelo FBI
por militar contra o macartismo e o racismo
O militante que ergueu sua voz contra o nazismo e a caça aos comunistas
Olival Freire Jr.
Especial para a Folha
A imagem pública de Einstein
fica incompleta sem sua atividade política. Parte dessa
atividade é relativamente
conhecida -em especial a
carta ao presidente Roosevelt, em 1939, pedindo que
os EUA se adiantassem na
construção da bomba atômica, antes que Hitler o fizesse. Menos conhecido é o
seu papel na época em que a
sociedade americana foi tomada pela histeria anti-comunista do macartismo.
O substantivo histeria não é casual: parcelas influentes das elites
americanas foram tomadas por
um espírito irracional na época,
especialmente depois que a União
Soviética detonou sua primeira
bomba atômica, em 1949. O alvo
da histeria era o próprio cidadão
americano, posto sob suspeita de
estar colaborando com o inimigo
soviético. Muitos perderam o emprego, outros se exilaram. O casal
Julius e Ethel Rosenberg foi condenado à cadeira elétrica em 1953,
sob acusação de ter revelado aos
russos o segredo da bomba.
O apelo de Einstein para a construção da bomba atômica tem sido objeto de controvérsia. Afinal,
ele foi contra a 1ª Guerra e manteve uma posição pacifista ao longo
de toda a década de 1920. Como
entender que ele tenha adotado
uma posição de conseqüências
tão trágicas para a história?
A carta não pode, entretanto,
ser julgada com os olhos de hoje.
Einstein abandonou o pacifismo
depois da ascensão do nazismo na
Europa e sustentou que as nações
democráticas deviam se preparar
para a eventualidade da agressão
nazista. Os físicos sabiam que, depois da descoberta da fissão nuclear, a Alemanha poderia ser a
primeira a construir a bomba.
Quanto ao macartismo, a história desse período nos EUA é também a história da resistência ao
ambiente político dominante, e
aqui Einstein desempenhou um
papel significativo. Procurado por
William Frauenglass, um professor de inglês que havia sido demitido após ter se recusado a comparecer perante a comissão de caça aos comunistas presidida pelo
senador Joseph McCarthy, Einstein enviou-lhe uma carta na qual
sugeria o caminho da não-cooperação, adotado por Gandhi, na Índia, contra os britânicos.
A carta afirmava que "todo intelectual intimado por um desses
comitês deveria se recusar a testemunhar, isto é, ele deve estar preparado para a prisão e para a ruína econômica, em suma, para o
sacrifício de seu bem-estar pessoal, no interesse do bem-estar
cultural do país". Einstein concluiu a carta afirmando que ela
não precisava ser considerada
"confidencial". Publicada no jornal "The New York Times", a carta se transformou num símbolo
da resistência ao macartismo.
Einstein foi também solidário
com o físico David Bohm, que,
perseguido pelo macartismo, se
exilou no Brasil. Escreveu para
professores da USP e para Getúlio
Vargas. Com o apoio de Einstein e
dos brasileiros, Bohm trabalhou
na USP por mais de três anos.
Einstein também adotou posições públicas contra o racismo.
Ele foi solidário com o historiador
W. E. B. Du Bois e manteve uma
duradoura amizade com o atleta,
cantor e ativista Paul Robeson,
negros e vítimas de perseguição.
Os biógrafos de Einstein subestimaram essa história, que só foi
resgatada recentemente, no livro
"The Einstein File", escrito pelo
jornalista Fred Jerome com base
no dossiê do FBI sobre o físico.
O dossiê revela que Einstein tinha inimigos nos EUA, antes
mesmo de emigrar para o país, e
que o todo-poderoso chefe do
FBI, Edgar Hoover, planejou, sem
sucesso, desencadear um processo para expulsá-lo dos Estados
Unidos, acusando-o de espionagem para os soviéticos. O dossiê,
de acesso público (foia.fbi.gov/foiaindex/einstein.htm) é o resultado desse plano.
Olival Freire Jr. é pesquisador do Instituto Dibner para a História da Ciência, no
MIT (Estados Unidos), e da Universidade
Federal da Bahia
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