São Paulo, quinta-feira, 18 de outubro de 2007
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saúde

Diabetes tipo 3?

Novos estudos reforçam tese de que doença de Alzheimer pode ser um tipo de diabetes; pesquisadores buscam saber se remédios para diabéticos podem melhorar perda cognitiva

AMARÍLIS LAGE
da reportagem local

Desde que foi descrita pela primeira vez, em 1906, a doença de Alzheimer tem sido alvo de várias controvérsias no meio científico. Agora, pesquisadores acrescentam mais uma peça a esse quebra-cabeça com uma nova tese: a de que a doença de Alzheimer é um tipo de diabetes.
Uma pesquisa recém-publicada no "Faseb Journal" (publicação da federação das sociedades americanas de biologia experimental) reforça essa idéia. O estudo, da Universidade Northwestern (EUA), mostra que partículas tóxicas típicas da doença de Alzheimer (as ADDLs) deixam os neurônios resistentes à insulina e que isso prejudica a transmissão de dados entre eles.
"O estudo mostra que a doença de Alzheimer pode ser uma nova forma de diabetes que afeta especificamente o cérebro, o que a comunidade científica internacional está começando a chamar de diabetes tipo 3", afirma Fernanda De Felice, pesquisadora visitante da Universidade Northwestern e co-autora do trabalho. Segundo De Felice, que é professora na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), o grupo pesquisa agora, in vitro, se as drogas para diabéticos podem prevenir o impacto das ADDLs. "Esses remédios são uma promissora abordagem terapêutica", diz ela, ressaltando que ainda é cedo para saber se a terapia funcionará.
Paulo Caramelli, coordenador do departamento de neurologia cognitiva e do envelhecimento da ABN (Academia Brasileira de Neurologia), acha a hipótese "interessante". "Se confirmarem que a resistência à insulina nos neurônios está ligada ao surgimento da doença, isso pode ter um impacto enorme no tratamento."
Mas, para Cybelle Diniz, diretora científica da Abraz (Associação Brasileira de Alzheimer)-regional São Paulo, as pesquisas ligadas à tese do diabetes tipo 3 ainda não são convincentes. "A deposição da proteína beta-amilóide por si só irrita os neurônios, gerando uma inflamação que pode matá-los. Isso afeta seu funcionamento como um todo, e não só seus receptores de insulina."

Fator de risco
Já se sabe que quem tem diabetes tipo 2, especialmente quem não controla a glicemia, costuma sofrer leves alterações de memória e tem mais risco de desenvolver a doença de Alzheimer, diz Caramelli. "O cérebro é o maior consumidor de glicose do corpo. Se as células não internalizam a glicose, seu funcionamento fica comprometido", afirma o neurologista.
A hipoglicemia (baixo nível de açúcar no sangue) pode levar à morte de neurônios, explica Rossana Russo Funari, geriatra do Hospital Edmundo Vasconcelos. "Repetidamente, isso leva à demência." Já a hiperglicemia lesiona os pequenos vasos sangüíneos, afetando a irrigação cerebral e matando neurônios. Caramelli diz que a teoria do diabetes tipo 3 é, hoje, uma das áreas de pesquisa mais promissoras sobre Alzheimer, mas que há outras hipóteses.
Três grandes alvos de estudo na área são os processos inflamatórios no cérebro, o estrogênio e a nutrição -a incidência da doença é menor na região do Mediterrâneo, por exemplo, o que chamou a atenção para a dieta local. Mas esse viés também é controverso. "Provavelmente, não se trata de um fator, mas de todo o estilo de vida dessas pessoas", afirma Diniz.


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