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Licitação de grandes obras sai até abril
Lei de Responsabilidade Fiscal impõe prazo para contrato em ano eleitoral; regra ambiental e resistências do TCU podem ser empecilho
Ministério Público do Pará
impõe obstáculos à usina
hidrelétrica de Belo Monte,
projeto de até R$ 30 bi com
leilão previsto para dezembro
MARCIO AITH
AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL
Somam mais de R$ 90 bilhões as grandes licitações e
compras de vulto a serem concluídas pelo governo federal
com fornecedores até abril do
ano que vem -prazo a partir do
qual a Lei de Responsabilidade
Fiscal, em razão do final de um
mandato, restringe novos acertos de longo prazo com empresas privadas.
Entre os contratos a serem
assinados nesse período de seis
meses (entre hoje e abril), estão
o da usina hidrelétrica de Belo
Monte, o do trem-bala entre
São Paulo e Rio, o do fornecimento de caças, o da ampliação
da ferrovia Norte-Sul e a concessão de nova frequência de
telefonia celular (a banda H).
Se a esse cálculo forem adicionados os grandes contratos
da Petrobras e da Transpetro,
empresas de economia mista
com regras próprias de compras, o patamar de licitações e
contratações pode subir para
até R$ 130 bilhões. A Transpetro selecionará os consórcios
fornecedores de 16 grandes navios. A Petrobras vai fazer o
mesmo com 28 sondas de perfuração em águas profundas.
De olho no futuro
O acúmulo de tantos contratos de vulto mostra como, diferentemente da era FHC, que
chegou ao fim assolada por
uma turbulência financeira de
origem eleitoral e desprovida
de um colchão fiscal, o governo
Lula posiciona-se, na reta final,
com o poder de influenciar o
pleito e tomar importantes opções estratégicas.
Entre essas opções, está a de
definir preços e escolher empresas privadas para obras que
só serão concluídas em até uma
década, ainda que várias delas
recebam inaugurações simbólicas no ano que vem.
O único desafio do governo é
o calendário. Regras ambientais e resistências do TCU (Tribunal de Contas da União) e do
Ministério Público têm atrasado o cronograma de várias dessas obras. Se os contratos não
forem assinados até abril, podem sofrer contestações jurídicas de fôlego longo.
É o caso da hidrelétrica de
Belo Monte, no Pará, uma das
estrelas do PAC (Programa de
Aceleração do Crescimento).
Enquanto o governo tenta obter a licença prévia do Ibama, o
Ministério Público Federal do
Pará prepara nova ação contra
o leilão. O governo quer leiloar
Belo Monte em dezembro.
Os procuradores apontam
problemas ambientais e sociais, além de incertezas sobre
o custo do projeto. A previsão é
que a hidrelétrica, com potência instalada 11,2 mil MW, o
que a torna a terceira maior do
mundo, chegue a R$ 30 bilhões.
Acompanhamento
Para o diretor-executivo da
Transparência Brasil, Claudio
Weber Abramo, a abertura de
licitações que somam R$ 90 bilhões em ano eleitoral, por si só,
não é um problema. A falha, segundo ele, está na precariedade
do acompanhamento que a sociedade brasileira faz de concorrências e assinaturas de
contratos, seja em períodos
eleitorais ou não.
"Não há nenhum motivo para supor, de antemão, que contratações que ocorram nesta
época sejam mais vulneráveis a
corrupção do que em outras. O
problema é que não há um
acompanhamento sistemático
de licitações e contratações."
Abramo avalia que a imprensa e as organizações civis falham ao não sistematizar o
acompanhamento das ações de
governo. O diretor da Transparência Brasil acha que o volume
de licitações que o governo Lula abrirá em 2010 repete "prática disseminada" no país. "Todo
governante faz isso, sem exceção", afirma.
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