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Retração nos EUA e na Europa abala setor exportador chinês
Federação de indústrias prevê o fechamento de ao menos 15 mil empresas e demissão de 2,5 milhões de trabalhadores em 3 meses
Redução nas vendas já provoca quebra de milhares de fábricas no sul da China; em Xangai, produção industrial teve queda de 6%
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
Cerca de 2,5 milhões de trabalhadores podem perder seu
emprego nos próximos três
meses no setor chinês mais dependente da economia mundial: o exportador.
O cálculo é da Federação de
Indústrias de Hong Kong. Em
entrevista ao jornal "South
China Morning Post", o diretor
da federação, Clement Chen
Cheng-jen, disse que os efeitos
da crise econômica afetarão
também bancos e serviços.
Empresários de Hong Kong
são donos de 60 mil fábricas no
sul da China. Elas empregam 11
milhões de pessoas e produzem
de computadores a têxteis.
EUA e União Européia já estão
comprando menos da China,
mas os efeitos da recessão global devem afetar mais ainda o
pólo manufatureiro mundial.
"Estamos muito, muito preocupados", disse Chen. "Nossa
percepção é grave, até médio
prazo, e a recessão vai durar um
bom tempo." Ele prevê que pelo menos 15 mil fábricas fecharão até o fim de janeiro.
Os 1.500 funcionários da fábrica BEP, de eletrodomésticos, foram avisados ontem de
que a empresa fecharia hoje.
Ela fica em Shenzhen, cidade
de 8 milhões de habitantes que
concentra milhares dessas fábricas. A fábrica de roupas U-Right International fechou na
semana passada e demitiu 500.
O governo de Hong Kong
anunciou ontem que oferecerá
linhas de crédito a pequenas e
médias empresas. "O setor das
fábricas para exportação já estava sofrendo há alguns anos,
com o aumento dos custos de
matérias-primas e dos salários
e com a apreciação do yuan
diante do dólar", disse à Folha
a chefe do Escritório de Análise
Econômica do governo de
Hong Kong, Helen Chan.
"O governo chinês deu estímulo por muito tempo e retirou incentivos nos últimos
anos, deixando que o mercado
resolvesse quem sobreviveria,
mas acho que, diante dessa situação, o suporte para essas
empresas é necessário."
Para Chan, por duas décadas
o casamento entre a China
continental e Hong Kong foi
perfeito. A ex-colônia britânica, hoje com administração autônoma, ficava com a logística,
as marcas, o controle de qualidade e o porto avançado. Já a
vizinha região do delta do rio
Pérola, com 40 milhões de habitantes, oferecia mão-de-obra
abundante para as fábricas.
A competitividade não é
mais a mesma e a desaceleração dos mercados mundiais já
atinge a região, onde 20 milhões de pessoas trabalham na
indústria exportadora.
Protestos
O caso que provocou maiores
protestos até agora foi a falência da fábrica de brinquedos
Smart Union, que deixou 6.500
funcionários na rua.
Cerca de mil funcionários
protestaram na semana passada por salários não recebidos
em Dongguan, no sul da China.
O setor de brinquedos para
exportação é um dos mais afetados pela desaceleração econômica na União Européia e
nos Estados Unidos, os dois
maiores compradores dos produtos chineses: 3.361 fábricas
fecharam apenas neste ano.
A Smart Union era fornecedora de empresas como Mattel
e Disney e não pagava salários
havia semanas para os seus
6.500 funcionários. "A maior
razão para o fechamento é que
somos muito dependentes do
mercado dos EUA, que ficou
ocioso", afirmou Xu Xiaofeng,
executivo da empresa.
No início deste mês, o governo de Dongguan estabeleceu
um fundo de 1 bilhão de yuans
(R$ 300 milhões) para ajudar
pequenas e médias empresas
afetadas pela crise nas exportações. Críticos dizem que ele
chegou tarde demais.
A crise ainda afeta outras regiões. Em Xangai, a produção
industrial caiu 6% em setembro na comparação com o mesmo mês do ano anterior. Em
Jiangsu, a queda foi de 4% no
comércio, nos raros números
de desaceleração divulgados
pela imprensa estatal.
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