São Paulo, segunda-feira, 20 de outubro de 2008

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Retração nos EUA e na Europa abala setor exportador chinês

Federação de indústrias prevê o fechamento de ao menos 15 mil empresas e demissão de 2,5 milhões de trabalhadores em 3 meses

Redução nas vendas já provoca quebra de milhares de fábricas no sul da China; em Xangai, produção industrial teve queda de 6%

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

Cerca de 2,5 milhões de trabalhadores podem perder seu emprego nos próximos três meses no setor chinês mais dependente da economia mundial: o exportador.
O cálculo é da Federação de Indústrias de Hong Kong. Em entrevista ao jornal "South China Morning Post", o diretor da federação, Clement Chen Cheng-jen, disse que os efeitos da crise econômica afetarão também bancos e serviços.
Empresários de Hong Kong são donos de 60 mil fábricas no sul da China. Elas empregam 11 milhões de pessoas e produzem de computadores a têxteis. EUA e União Européia já estão comprando menos da China, mas os efeitos da recessão global devem afetar mais ainda o pólo manufatureiro mundial.
"Estamos muito, muito preocupados", disse Chen. "Nossa percepção é grave, até médio prazo, e a recessão vai durar um bom tempo." Ele prevê que pelo menos 15 mil fábricas fecharão até o fim de janeiro.
Os 1.500 funcionários da fábrica BEP, de eletrodomésticos, foram avisados ontem de que a empresa fecharia hoje. Ela fica em Shenzhen, cidade de 8 milhões de habitantes que concentra milhares dessas fábricas. A fábrica de roupas U-Right International fechou na semana passada e demitiu 500.
O governo de Hong Kong anunciou ontem que oferecerá linhas de crédito a pequenas e médias empresas. "O setor das fábricas para exportação já estava sofrendo há alguns anos, com o aumento dos custos de matérias-primas e dos salários e com a apreciação do yuan diante do dólar", disse à Folha a chefe do Escritório de Análise Econômica do governo de Hong Kong, Helen Chan.
"O governo chinês deu estímulo por muito tempo e retirou incentivos nos últimos anos, deixando que o mercado resolvesse quem sobreviveria, mas acho que, diante dessa situação, o suporte para essas empresas é necessário."
Para Chan, por duas décadas o casamento entre a China continental e Hong Kong foi perfeito. A ex-colônia britânica, hoje com administração autônoma, ficava com a logística, as marcas, o controle de qualidade e o porto avançado. Já a vizinha região do delta do rio Pérola, com 40 milhões de habitantes, oferecia mão-de-obra abundante para as fábricas.
A competitividade não é mais a mesma e a desaceleração dos mercados mundiais já atinge a região, onde 20 milhões de pessoas trabalham na indústria exportadora.

Protestos
O caso que provocou maiores protestos até agora foi a falência da fábrica de brinquedos Smart Union, que deixou 6.500 funcionários na rua.
Cerca de mil funcionários protestaram na semana passada por salários não recebidos em Dongguan, no sul da China.
O setor de brinquedos para exportação é um dos mais afetados pela desaceleração econômica na União Européia e nos Estados Unidos, os dois maiores compradores dos produtos chineses: 3.361 fábricas fecharam apenas neste ano.
A Smart Union era fornecedora de empresas como Mattel e Disney e não pagava salários havia semanas para os seus 6.500 funcionários. "A maior razão para o fechamento é que somos muito dependentes do mercado dos EUA, que ficou ocioso", afirmou Xu Xiaofeng, executivo da empresa.
No início deste mês, o governo de Dongguan estabeleceu um fundo de 1 bilhão de yuans (R$ 300 milhões) para ajudar pequenas e médias empresas afetadas pela crise nas exportações. Críticos dizem que ele chegou tarde demais.
A crise ainda afeta outras regiões. Em Xangai, a produção industrial caiu 6% em setembro na comparação com o mesmo mês do ano anterior. Em Jiangsu, a queda foi de 4% no comércio, nos raros números de desaceleração divulgados pela imprensa estatal.


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