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Governo usa poupança para pressionar banco
Mantega liga a desoneração dos fundos de investimento à redução das taxas de administração adotadas pelas instituições
Planalto quer tornar fundos
mais atrativos em relação à
poupança, mas, antes, vai
monitorar migração de
investidores e queda da Selic
VINICIUS TORRES FREIRE
GUILHERME BARROS
COLUNISTAS DA FOLHA
O governo vai baixar o imposto sobre rendimentos de
fundos de investimento, CDBs
e Tesouro Direto apenas se
constatar que houve migração
relevante de dinheiro da poupança para essas aplicações financeiras. Ainda assim, vai esperar dos bancos uma redução
das taxas de administração dos
fundos de investimento, que
tornam tais aplicações menos
atrativas em relação à caderneta de poupança.
Em entrevista à Folha, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que o governo não
vai estudar nenhuma medida a
respeito da tributação de fundos de investimento antes de
uma nova e eventual redução
na meta da taxa básica de juros,
a Selic. A depender da dimensão da queda da Selic, da reação
dos investidores e, por fim, dos
bancos que gerem os fundos,
pode ou não reduzir o Imposto
de Renda.
"Nessa hipótese, a medida
será temporária e vai visar apenas aqueles investidores que
trocam suas aplicações no curto prazo, menos de seis meses
ou um ano, e que pagam imposto de 22,5% ou 20%. O imposto, então, cairia abaixo disso,
mas ainda não temos nenhum
número. Tudo depende da decisão do Banco Central sobre a
Selic, da reação do mercado e
da necessidade de manter o
equilíbrio entre as aplicações",
disse o ministro.
Na quarta-feira, o governo
anunciou que vai enviar ao
Congresso um projeto de lei ou
medida provisória que estipula
a tributação de parte dos rendimentos das contas de poupança com saldo superior a R$ 50
mil. De acordo com Mantega, o
projeto de lei ou de medida
provisória ainda não está pronto, mas segue exatamente o
anunciado na quarta por ele e
pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.
De acordo com tal anúncio,
quanto mais a Selic cair abaixo
de 10,5% ao ano, fatias maiores
do rendimento da poupança
serão tributadas, de acordo
com a tabela do Imposto de
Renda para o rendimento
mensal do contribuinte.
A Selic está hoje em 10,25%.
Nas perspectivas mais otimistas do mercado, neste ciclo de
baixa, a Selic pode cair para até
8,75% ou 9%. Neste caso, para
99,7% das contas de poupança
o imposto efetivo sobre os rendimentos chegaria a 8,3%, para
quem tem renda mensal de R$
10 mil, por exemplo, ou a 1,8%,
para quem tem renda de R$
2.000 (nesta hipótese, considera-se que cada conta de poupança corresponde a um contribuinte, a um CPF, o que não
corresponde à realidade. Há
pessoas com mais de uma conta de poupança, e o tributo será
cobrado sobre o total do saldo
de cada CPF).
Migração
Ao taxar a poupança, hoje
isenta de tributação, o objetivo
do governo é evitar que o rendimento da poupança se torne
mais atrativo que o dos fundos
de investimento, causando a
migração de investimentos, em
especial de grandes aplicadores
de curto prazo.
Os fundos investem maciçamente em títulos públicos (isto
é, financiam a dívida do governo: emprestam para o governo). No caso de drenagem ampla dos fundos, haveria dificuldades para financiar a dívida
pública (em tese, os juros básicos da economia poderiam subir ou cair menos).
Outro problema é que 65%
dos depósitos da caderneta devem ser utilizados pelos bancos
no financiamento de moradias.
No caso de drenagem dos fundos e excesso de recursos na caderneta de poupança, cairia o
volume de recursos disponíveis
para outros financiamentos, o
que poderia elevar as demais
taxas de juros.
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