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Aumento real do mínimo injeta R$ 21 bi e reduz crise
Aliada à inflação menor, alta real de 6,4% do salário fortalece mercado interno
Setores como alimentos, roupas e fármacos e regiões como Norte, Nordeste e Centro-Oeste devem ser mais beneficiados
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Reajustado neste mês em
6,4% em termos reais, o novo
salário mínimo de R$ 465 injetará diretamente na economia
R$ 21 bilhões pelos cálculos do
Ministério do Trabalho e será
um importante instrumento de
política anticíclica nestes tempos de crise, segundo especialistas. Permitirá, dizem, manter algum dinamismo em setores que dependem da expansão
da renda, como o de alimentos.
Para Fábio Romão, economista da LCA, o aumento do
mínimo, aliado à inflação menor neste ano, vai sustentar o
consumo de alimentos e outros
bens semi e não-duráveis (como roupas, calçados e produtos
de limpeza e de higiene pessoal) e amortecer o impacto da
crise tanto na produção como
no emprego. O reajuste real
também terá mais peso nas regiões onde a penetração do mínimo é maior, como Norte,
Nordeste e Centro-Oeste.
Antes mesmo do aumento
total de 12,05% do mínimo, o
desempenho dos setores ligados à renda já destoava do resto. De outubro a dezembro, a
indústria geral registrou tombo
sem precedentes em crises anteriores, de 19,8%. Mas, em alimentos, a queda foi suave
-0,7%, a menor dos ramos.
Só registraram expansão bebidas (0,2%), também dependente da renda, e outros veículos automotores (20,1%), por
causa da fabricação de aviões
encomendados antes da crise,
contra queda de 54% na produção de veículos, diz o IBGE.
Isabella Nunes, do IBGE, diz
que os ramos ligados à renda já
tiveram resultados um pouco
melhores nos três últimos meses de 2008 -quando a indústria sentiu, progressivamente,
o forte baque da crise.
"A indústria desabou em dezembro, mas a renda ainda sustenta um pouco os não-duráveis." Em dezembro, a produção da indústria geral caiu
14,5% ante dezembro de 2007
-a maior retração desde 1991.
Naquele mês, outro ramo ligado à renda, a indústria farmacêutica, cresceu 11,7%.
Para Nunes, uma eventual
estabilidade do mercado de trabalho e o efeito do reajuste do
salário mínimo jogarão um papel importante para definir o
rumo da economia neste ano.
Já Romão vê o mínimo como
um "amortecedor" da crise,
mas que não impedirá uma desaceleração do ritmo da atividade. Regionalmente, os Estados do Nordeste já registraram
em dezembro resultados "menos ruins", diz Romão, justamente por causa do maior peso
das indústrias de semi e não-duráveis. Tiveram recuos abaixo da média de 14,5% as indústrias de Pernambuco (-6,2%) e
Ceará (-3,9%). Goiás registrou
expansão -1,1%-, impulsionado pela indústria de alimentos,
cujo peso é de 66% no Estado.
"Sentiremos a crise, mas menos que os outros setores. A
produção deu pequena desacelerada, mas estamos otimistas.
A indústria de alimentos deve
crescer 3% no ano, e o aumento
real do mínimo ajudará o consumo", diz Denis Ribeiro, da
Abia (Associação Brasileira das
Indústrias da Alimentação).
Segundo Ciro Mortella, presidente da Febrafarma (Federação Brasileira da Indústria
Farmacêutica), o setor ainda
não sente o impacto da crise na
produção, mas também não deve ficar inume. "Seremos afetados, mas em menor escala."
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