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Produto importado avança no comércio
Com real valorizado e alta da renda no país, compras do exterior retomam força e chegam a dobrar em algumas redes de lojas
Importação cresce para bens duráveis e também para itens como alimentos e bebidas; indústria nacional cobra medidas do governo
FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
O crescimento da massa real
de salários e o real valorizado
aumentaram a oferta de importados no país. A compra de produtos no exterior, como derivados de leite, bebidas, alimentos
em conservas, artigos de vestuário e utilidades domésticas,
chegou a dobrar em algumas
redes de lojas e já preocupa setores da indústria nacional.
A importação total de bens
de consumo duráveis (carros e
eletrônicos) e não duráveis (alimentos) não supera, no acumulado deste ano, a do ano passado, mas está reagindo.
Em agosto, a média diária de
importações de bens não duráveis atingiu US$ 36,3 milhões,
maior que a de julho (US$ 35,3
milhões). No caso de bens duráveis, a importação foi de US$
48,6 milhões em agosto e de
US$ 40,6 milhões em julho.
No mês passado, pela primeira vez no ano, a importação de
carros de passeio, que totalizou
US$ 499 milhões, superou a do
mesmo mês do ano anterior
(US$ 482 milhões). No acumulado do ano, a compra de carros
no exterior ainda é 10,2% menor do que a do ano passado.
"Com essa taxa de câmbio e
com a renda em alta, a importação de produtos das linhas de
duráveis e não duráveis só tende a crescer", diz José Augusto
de Castro, vice-presidente da
AEB (Associação Brasileira de
Comércio Exterior do Brasil).
Em agosto, a média diária de
importações do Brasil foi da ordem de US$ 512,7 milhões. Nos
meses anteriores, girava ao redor de US$ 400 milhões. "Não
chegamos ao valor de antes da
crise, mas essa é uma questão
de tempo." Em agosto de 2008,
a importação média diária do
país foi de US$ 830,8 milhões.
De leite a perfume
A compra de alguns produtos
no exterior chama a atenção de
especialistas. De janeiro a julho, subiu, na comparação com
igual período de 2008, a importação de leite e laticínios, vestuário, produtos de perfumaria
e limpeza, sucos e conservas,
calçados, brinquedos e jogos e
produtos farmacêuticos, segundo levantamento da Funcex (Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior).
"A demanda por esses produtos não sofreu o impacto da crise, diferentemente do que
ocorreu com bens duráveis. Como a renda do consumidor está
crescendo e o real está valorizado, a procura por importados,
principalmente dos que não dependem de financiamento, foi
razoavelmente preservada",
afirma Fernando Ribeiro, economista-chefe da Funcex.
O Grupo Pão de Açúcar vai
dobrar neste ano a importação
de produtos da linha Casino (o
parceiro francês da empresa),
formada por cerca de 200 itens
nos setores de massas, biscoitos, temperos, chocolates e
produtos enlatados. Também
vai ampliar em cerca de um terço a importação de brinquedos,
de produtos de bazar (como
louças e peças de decoração),
em 10% a de vinhos e em 20% a
de frutas. Deve manter no nível
do ano passado a importação de
calçados e artigos de vestuário.
"A taxa de câmbio está mais
favorável, e o consumidor compra importado quando vê que o
produto tem qualidade e é mais
barato", diz Sandro Benelli, diretor do Grupo Pão de Açúcar
para importação e exportação.
A Casa Santa Luiza, em São
Paulo, decidiu elevar de 50%
para 55% a participação de importados no mix de produtos.
"Com essa taxa de câmbio, fica
mais barato comprar alguns
itens no exterior", diz o diretor
Jorge da Conceição Lopes. Entre esses produtos, estão pêssegos em lata da Argentina, sucos
de frutas da África do Sul e derivados de tomate da Itália.
Reflexo na indústria
"Com o real valorizado, a importação tende a crescer e a indústria nacional vai ter de se virar para competir, pois terá de
conviver cada vez mais com
mercadorias de fora do país",
diz Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados.
A indústria têxtil está preocupada com a competição desleal com artigos importados. "A
queda do consumo na Europa,
no Japão e nos EUA levou países da Ásia a enviar a produção
excedente para países como o
Brasil. Não temos medo da concorrência, mas não podemos
aceitar que a importação a preços muito reduzidos coloque
em risco a indústria nacional",
diz Fernando Pimentel, diretor
superintendente da Abit, associação da indústria têxtil.
As indústrias de calçados e de
brinquedos também pressionam o governo para intensificar as medidas que possam evitar o encolhimento dos setores.
"No terceiro trimestre de
2008, nosso setor empregava
336 mil pessoas. Chegamos a
dezembro com 42 mil empregos a menos. Isso ocorreu principalmente devido às importações que tomaram conta do
mercado brasileiro", diz Milton
Cardoso, presidente da Abicalçados (Associação Brasileira
das Indústrias de Calçados).
A Abrinq (fabricantes de
brinquedos) estima que as importações impeçam, por ano, a
criação de ao menos 25 mil vagas com carteira assinada. "O
modelo que vem da China pode
ser encontrado no Brasil, que
tem maior segurança e qualidade", diz Synésio Batista da Costa, presidente da Abrinq.
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