São Paulo, quarta-feira, 08 de julho de 2009

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Crise fica em segundo plano em cúpula desidratada do G8

Encontro não terá caráter deliberativo; EUA, Alemanha e França dizem preferir G20

Mudança climática, agenda rara no G8, será o principal tema hoje, mas definição de medidas ambientais deve ficar só para dezembro


CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A ROMA

O G8, o clube dos sete países mais ricos do mundo mais a Rússia, faz a partir de hoje a sua cúpula mais estranha, após 35 anos de existência. Estranha, para começar, porque a sobrevivência do grupo, no formato atual, é condenada até pelos seus principais integrantes (Estados Unidos, Alemanha, França), que preferem o formato G20, também defendido pelo Brasil, cujo presidente só entra na cúpula amanhã.
Estranha também pela geografia: o governo anfitrião, o italiano, deslocou a cúpula de uma ilha na Sardenha para a cidadezinha de L'Aquila, a 120 quilômetros de Roma, embora a única construção de porte que tenha sobrevivido ao terremoto de abril tenha sido o quartel da Guarda de Finanças, um complexo de 55 hectares.
É nele que se reunirão os governantes, por ser supostamente imune a terremotos. Mas, "do ponto de vista sísmico, ninguém pode prever nada", admite até o chanceler anfitrião, Franco Frattini.
Estranho ainda porque continua a haver uma divisão entre primeira e segunda classe, como brinca o chanceler Celso Amorim. O G8 faz a sua cúpula primeiro para apenas no dia seguinte chamar para conversar o G5+1 (Brasil, China, Índia, África do Sul, México e Egito, o convidado especial da Itália).
Se os principais líderes acham que o G20 é o formato ideal para discutir economia e finanças -antes o principal tema do G8-, o correto seria adotar de uma vez tal formato, em vez de adicionar e tirar números da sopa de letrinhas em que se vai transformando a governança global.
Como nenhuma dessas reuniões tem caráter deliberativo, elas acabam se transformando em uma espécie de "talk-show" das maiores estrelas da política global, neste ano comandadas por Barack Obama, em seu primeiro G8 e G8+G5.
Este segundo formato tem também um fator novo e estranho: a China participa, 48 horas depois da matança de uigures da região de Xinjiang, no noroeste do país, fronteira com o Paquistão.
Se, como pedem Angela Merkel e o governo canadense, o G8 deve emitir um "forte sinal" a respeito da situação no Irã, criticadíssimo pela violência empregada na repressão aos protestos contra a reeleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad, fica hipócrita calar diante dos chineses.
Aliás, o presidente italiano, o ex-comunista Giorgio Napolitano, não calou. Recebeu anteontem o presidente Hu Jintao e reclamou respeito aos direitos humanos.
Por fim, as cúpulas são estranhas também porque o grande tema em L'Aquila será mudança climática, uma agenda que nem existia quando o G8 foi criado e que, nos 35 anos seguintes, pouco relevo teve, a não ser nos dois ou três últimos anos.
De L'Aquila sairá, em princípio, um acordo essencial para evitar uma catástrofe ambiental: cravar 2 como o máximo que a temperatura da Terra pode aumentar, na comparação com o período pré-industrial.
Como se fará para chegar a essa meta, no entanto, fica para a mais importante cúpula do ano, em dezembro, em Copenhague.


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