São Paulo, sexta-feira, 02 de outubro de 2009

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FMI já prevê crise fiscal nos países ricos

Fundo recomenda reformas estruturais nos sistemas de aposentadoria e saúde de nações avançadas para contornar deficit

Receituário para países ricos é similar ao recomendado no passado a nações pobres, como Brasil e Argentina, para evitar a insolvência


FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A ISTAMBUL

O FMI (Fundo Monetário Internacional) já trabalha com um cenário de crise fiscal em algumas economias ricas e exortou os países a reformarem rapidamente seus sistemas de aposentadoria e saúde.
Esse é o tipo de recomendação que o Fundo fazia no passado a países em desenvolvimento, como Brasil e Argentina. O alvo é cortar gastos para evitar a insolvência do setor público.
O FMI coloca em dúvida a capacidade de o setor privado voltar a investir e de consumidores ampliarem seus gastos para sustentar o crescimento. Com isso, é possível que a economia global precise de mais estímulos estatais para não entrar de novo em recessão.
O problema é que muitos países ricos já bateram recordes de endividamento. Mais gastos públicos detonariam uma crise de confiança entre investidores que financiam os governos comprando seus títulos.
"Até aqui, a recuperação global se dá pelo forte aumento do gasto público e pela reposição de estoques, que está terminando. Os consumidores vão querer poupar, e as empresas não investirão, pois têm níveis elevados de ociosidade", disse o economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard, ao explicar por que o setor público talvez tenha de gastar mais.
"Os governos têm pela frente um escolha muito difícil. Não há dúvida de que a demanda privada está fraca. Por isso, gastos estatais são necessários, talvez até ao longo de 2010. E é claro que eles podem trazer sérias dúvidas sobre a sustentabilidade [das contas públicas]", diz Blanchard.
"Os governos têm de fazer duas coisas: manter os estímulos o quanto for necessário e, ao mesmo tempo, melhorar a sustentabilidade do endividamento. Isso requer reformas nos sistemas de aposentadorias e de saúde. Essas reformas precisam ser encaradas."
Blanchard qualificou como "uma piada" a alternativa levantada por alguns países em querer realizar apenas mudanças menos profundas no sistema tributário a fim de evitar reformas estruturais.
Segundo as projeções do FMI, o nível de endividamento do conjunto das economias avançadas corresponderá a cerca de 110% de seu PIB (Produto Interno Bruto) dentro de quatro anos.
Já o deficit fiscal (despesas estatais maiores do que a receita em impostos) mais do que dobrou entre o ano passado e 2009. Passou do equivalente a 4,6% do PIB das economias avançadas para 10,1%. EUA, Reino Unido e Japão são os países em pior situação.
Blanchard afirmou que ao mesmo tempo em que os países devem perseguir reformas na seguridade social, as maiores economias precisam urgentemente atacar "desequilíbrios globais". Em resumo, países com altos índices de poupança (como China e outros asiáticos) precisariam gastar mais e comprar mais produtos de países altamente endividados (como os Estados Unidos).
Há quase dez anos o FMI recomenda, sem sucesso, que seus países membros adotem uma estratégia conjunta para resolver esses desequilíbrios.
Blanchard afirmou que a atual crise global trouxe um novo "senso de urgência" para que os governos dos países ricos enfrentem as reformas estruturais. E para que o mundo encontre um novo equilíbrio entre exportadores e importadores, com China/asiáticos e EUA, invertendo seus papéis.


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