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FMI já prevê crise fiscal nos países ricos
Fundo recomenda reformas estruturais nos sistemas de aposentadoria e saúde de nações avançadas para contornar deficit
Receituário para países ricos
é similar ao recomendado
no passado a nações pobres,
como Brasil e Argentina,
para evitar a insolvência
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A ISTAMBUL
O FMI (Fundo Monetário
Internacional) já trabalha com
um cenário de crise fiscal em
algumas economias ricas e
exortou os países a reformarem
rapidamente seus sistemas de
aposentadoria e saúde.
Esse é o tipo de recomendação que o Fundo fazia no passado a países em desenvolvimento, como Brasil e Argentina. O
alvo é cortar gastos para evitar
a insolvência do setor público.
O FMI coloca em dúvida a capacidade de o setor privado voltar a investir e de consumidores ampliarem seus gastos para
sustentar o crescimento. Com
isso, é possível que a economia
global precise de mais estímulos estatais para não entrar de
novo em recessão.
O problema é que muitos países ricos já bateram recordes de
endividamento. Mais gastos
públicos detonariam uma crise
de confiança entre investidores
que financiam os governos
comprando seus títulos.
"Até aqui, a recuperação global se dá pelo forte aumento do
gasto público e pela reposição
de estoques, que está terminando. Os consumidores vão
querer poupar, e as empresas
não investirão, pois têm níveis
elevados de ociosidade", disse o
economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard, ao explicar por
que o setor público talvez tenha
de gastar mais.
"Os governos têm pela frente
um escolha muito difícil. Não
há dúvida de que a demanda
privada está fraca. Por isso, gastos estatais são necessários, talvez até ao longo de 2010. E é
claro que eles podem trazer sérias dúvidas sobre a sustentabilidade [das contas públicas]",
diz Blanchard.
"Os governos têm de fazer
duas coisas: manter os estímulos o quanto for necessário e, ao
mesmo tempo, melhorar a sustentabilidade do endividamento. Isso requer reformas nos
sistemas de aposentadorias e
de saúde. Essas reformas precisam ser encaradas."
Blanchard qualificou como
"uma piada" a alternativa levantada por alguns países em
querer realizar apenas mudanças menos profundas no sistema tributário a fim de evitar reformas estruturais.
Segundo as projeções do
FMI, o nível de endividamento
do conjunto das economias
avançadas corresponderá a
cerca de 110% de seu PIB (Produto Interno Bruto) dentro de
quatro anos.
Já o deficit fiscal (despesas
estatais maiores do que a receita em impostos) mais do que
dobrou entre o ano passado e
2009. Passou do equivalente a
4,6% do PIB das economias
avançadas para 10,1%. EUA,
Reino Unido e Japão são os países em pior situação.
Blanchard afirmou que ao
mesmo tempo em que os países
devem perseguir reformas na
seguridade social, as maiores
economias precisam urgentemente atacar "desequilíbrios
globais". Em resumo, países
com altos índices de poupança
(como China e outros asiáticos)
precisariam gastar mais e comprar mais produtos de países
altamente endividados (como
os Estados Unidos).
Há quase dez anos o FMI recomenda, sem sucesso, que
seus países membros adotem
uma estratégia conjunta para
resolver esses desequilíbrios.
Blanchard afirmou que a
atual crise global trouxe um novo "senso de urgência" para que
os governos dos países ricos enfrentem as reformas estruturais. E para que o mundo encontre um novo equilíbrio entre exportadores e importadores, com China/asiáticos e
EUA, invertendo seus papéis.
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